quinta-feira, dezembro 30, 2010

O colarinho da minha camisa está frio.

O colarinho da minha camisa está frio. O meu pescoço retorcido aquece com o gelo da inquietação. Amanhá vão-me doer as costas, vão-me pesar os olhos, vai-me cansar o pescoço. Hoje não. Hoje não sou ninguém. Sou calado como um rio em dezembro. Negro como um céu de fogo. Hoje sou só. Sou só um a mais caminhando de pelo branco, branco como alguma coisa que não me lembro. Como nada. O colarinho da minha camisa está branco. Estou esquecido porque não me posso pensar. Deixo voar os dedos para que descanse a cabeça. Chega por hoje. O espectáculo continua a seguir. Não tem que continuar, eu não tenho que o continuar. É escuro e dormem os anjos. É fundo. Cru como a carne que me faz. Respira e caminha. Sorri e canta baixinho. Grita comigo um dia feliz, porque só no teu grito ele vive feliz.