terça-feira, abril 05, 2005

Monólogo Apaixonado nº9

O manto branco circunda-me. O sabor doce das nuvens acarinha-me o gosto a cada inspiração. As minhas asas alvas batem em explosões de penas mas eu permaneço imóvel. Vejo-te vir na minha direcção. Toda de branco aproximas-te e sem dizer uma palavra atiras-me os braços circundando o meu corpo num abraço tão sentido que lágrimas de cristal aparecem para adornar meus olhos. A luz abrasa-me como um sol branco a mim firigido e a felicidade imensa cobre o meu corpo. Desejo ficar naquele aperto para a eternidade mas tu lentamente afastas-te e encarando-me trazes-me de volta o olhar que tantas vezes trocamos sem razão. E eu na minha inocência fito o negro dos teus olhos que me apaixona. E de repente tudo explode!
O negro da minha perdição transforma-se nas grades da minha captividade e lanço-me num vómito desenfreado. No chão os restos de açúcar de um sonho que morreu cedo. Olho à volta e vejo-te segurando o ferro que ao beijar a minha jaula me trouxe de voltaa a este mundo macabro.Como um general apontas-me com um esgar uma enferrujada televisão. Mais ao lado colunas começas a debitar som por altifalantes. Como uma gota de orvalho num momento único de reflexo do sol, vislumbro a esperança a brilhar-me agitadamente.
Sais da sala de novo e eu faço uso das tuas oferendas. Tomei-as eu assim, como oferendas. Mas quando me deixas concentrar imediatamente vejo que não é isso. Na televisão cenas de amores perdido na cidade. Casais tão heterogeneos como areia vão desfilando em carícias apeladoras. Do negro ribombar das colunas saem frases de amor que incitam à violência amorosa e ao sentimento desmedido. Ofertas pensei eu! Instrumentos de tortura que cumprem a sua função com demasiada eficácia. Os olhos prontamente me distorcem o mundo, os ouvidos arremessam-me a cabeça no balançar constante da morte.Lentamente as forças esvaem-se e caio de joelhos no chão. Olho a porta e vejo-te de lá sorrindo-me sádicamente. Num ultimo suspiro antes da morte solto um grito desmedido mas não vejo os seus efeitos, o pano cai e não mais vejo o público.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

A cada momento que passa torna-se mais dificil entrar aqui. Deixei de olhar para o que publicas como "o que tu escreves" e passei a ve-lo como o que eu sinto. Despes-me em palavras. Fazes-me pensar e, mesmo sem eu querer, procurar o mais escondido de mim. Aquilo que enterrava por baixo da pele para que ninguem visse. Nem mesmo eu. Todos os dias venho aqui. Venho descobrir mais um bocadinho de mim (e de ti também). Venho sonhar no pensamento.

Obrigado

6:41 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

A cada momento que passa torna-se mais dificil entrar aqui. Deixei de olhar para o que publicas como "o que tu escreves" e passei a ve-lo como o que eu sinto. Despes-me em palavras. Fazes-me pensar e, mesmo sem eu querer, procurar o mais escondido de mim. Aquilo que enterrava por baixo da pele para que ninguem visse. Nem mesmo eu. Todos os dias venho aqui. Venho descobrir mais um bocadinho de mim (e de ti também). Venho sonhar no pensamento.

Obrigado

6:47 da tarde  

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