segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Amar tudo

Ainda tenho guardado sorriso daquele dia. Toda a gente me gritava que não me podia atirar assim. Que ainda o conhecia há pouco tempo, que as coisas têm tempo. Não quis saber. O mundo parece tão pequenino quando quem nos dá a mão é gigante. Ouvia os ralhetes e recomendações e sorria as respostas sem me importar. Comentários, bocas menos próprias, apelos. Nada tocava o sorriso que ele deixava lá. A minha família batia na tenra idade, no emprego pouco estável, na verde relação. As minhas amigas na história dele, nas histórias de divórcio, nas histórias de vida fechada em casa a tomar conta dos filhos. Os meus amigos atiravam piadas sobre a traição, a monotonia e o "amarrar".
Lembro-me bem melhor das flores na igreja do que dos comentários deles. Nesse dia toda a gente sorria mais. Já estava feito e era inevitável. Recordo-me do sabor do beijo. Da festa e da alegria que explodia em mim. Explodia mesmo, não era aquela euforia, mas a alegria bestial sem medos ou preocupações. O dia mais importante da minha vida. Foi assim que o rotulei dias antes e durante dias depois. Era tudo mais novo ainda que o vestido e o novo círculo dourado que me cobria a mão. O acordar, o jantar e o viver. Habitar a mesma cama, a mesma casa e a mesma casa-de-banho. Sorrir mesmo enquanto lavava os dentes. Dormir no calor, acordar no calor. Adormecer no sofá com 23 anos e ir para cama com 5, carregada e coberta por ele. Amanhecer com torradas e café. O belo novo. E tê-lo mesmo. Ele ser meu. O seu sorriso e tudo. Amar-lhe tudo. Dos pés à cabeça, do riso à lágrima, dos carinhos às discussões. Era tudo meu. Tudo.
Pelo menos assim julguei. E tomei-o como meu. Tive-lhe a certeza e deixei de me agarrar. Vivia despreocupada e deixei de me preocupar. Vivia segura e deixei de o puxar. Tudo tem que se renovar, tudo. Até o amor. Tomei o casamento por um contrato de amor vitalício e deixei de amar. Sem amor. Sem a luz do amor, ele perdeu a capacidade de distinguir a minha frente das costas. Perdeu-se no escuro delas, no escuro da minha indiferença. Perdi o amor. O amar já tinha eu perdido. Perdi tudo.

3 Comentários:

Blogger styska disse...

tão verdade... nada se pode tomar como certo, nem o amor! mto menos o amor... e vejo tanta gente a fazê-lo e admirar-se qd se apercebe q ele já não está lá...

gostei mto* vá... escreve lá o próximo! :)*

3:03 da tarde  
Blogger Gui disse...

nem sabes o ponto vital em que tocaste...tantas vezes já pensei isto, tantas e tantas...tomar as coisas como garantidas é o pior dos erros...e é tão mas tão frequente...

como eu adoro esta série!

E já falta tão pouco...buaaa

3:30 da tarde  
Blogger SA. disse...

é bem verdade... quando o tomamos mesmo por certo ele acaba por se perder.


é que o que irrita em ti, sabias? para além de escreveres como ninguém, sabes falar de coisas como ninguém.

9:06 da manhã  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial