domingo, outubro 09, 2005

Diálogo Apaixonado nº6

Viajo numa estrada à qual aboli as curvas, e sigo sempre em frente serenamente. A paisagem vai mudando assim como o tempo o que impede que a monotonia se implante e cada momento é único. Bons ou maus, bons e maus todos são únicos. Ainda que me apeteça muitas vezes voltar para trás, ainda que me apeteça virar, partir à descoberta de uma estrada nova, de uma nova rota, ainda que me apeteça mudar de faixa sigo sempre em frente, sempre no mesmo sítio sempre a caminhar.
Por vezes paro. Atacam-me fúrias e apetece-me explodir e destruir tudo o que me circunda. A raiva. Corroi e arde tentando a minha destruição. Mas eu paro, sento-me e fico a olha-la de sorriso sarcástico e os olhos ainda a saber a sal até que se decida a abandonar-me. Outras vezes paro por não saber por onde ir. Uma bifurcação. Ambas seguem em frente. Esquerda, direita, qual? Esquerda ou direita? Fico indeciso, inquieto, incontrolado. O que fazer? Gosto de ti mas não sei o que fazer. Quero seguir em frente mas esquerda ou direita?
Olho ambas, a da direita é tão bonita, estrada nova, o piso tão agradável, a paisagem aberta e solarenga. Mas só a vejo a poucos metros, quem não me diz que acaba aí? Que passa a algo tortuoso e horrendo? Ou que acaba mesmo num precipicio? Quero-te a ti. Quero a tua voz, o teu olhar, o teu sorriso, a tua mão, os teu lábios. Indecisão. Tenho tanto medo, medo frio e paralisador. Medo de perder a tua voz por querer os teus lábios. Porque não posso seguir pelos dois caminhos? Inquietação. O medo agarra-me ao chão. Gosto tanto da tua voz, como ela dança à minha frente em conversas que me enchem o coração de alegria e tristeza num desfilar de emoções tão parecidos com a felicidade. Queria ter a tua voz a dançar com a minha durante dias a fio. Consegues imaginar? Duas pedras erigidas do nada para nosso descanço, o céu azul à nossa volta e as palavras no nosso meio durante dias e dias. A estrada serena e bela. Mas...
Os teus lábios. Vermelhos, carnais, emuldurando um sorriso que tudo ilumina. A norte o olhar pedindo o que a boca não diz. E os teus lábios sorrindo-me, sempre sorrindo. Incontrole. A estrada da esquerda vejo-a durante quilómetros. A vegetação baixa que a acompanha e o pó laranja a seus pés. Serena e bela. Como saber para onde ir? Se ao menos eu pudesse voltar para trás podia experimentar a da direita e se acabasse eu voltava. Mas tenho que andar, andar sempre, seguir em frente. E os teus lábios, e a tua voz, e eu aqui amarrado ao chão esperneio e grito, grito ao medo que me largue e que me deixe ir. Se depois quiser voltar para trás, mais uma vez pararei e pacientemente esperarei que a raiva e a dor me abandonem como fiz até aqui. Só não queria ter que voltar atrás. Se houvesse ao menos uma placa. Mas tu também te fechas e não me iluminas, limitas-te a mostrar-me as feridas do medo que eu também tenho. Eu sei que não me podes ajudar a virar mas podias vir a meu lado e se o precipicio viesse caímos os dois. Ou talvez voassemos. Voar! Comigo. Contigo.

*à minha musa

3 Comentários:

Blogger SA. disse...

Tu tens a possibilidade de escolher... a minha frente tenho um único caminho que não desejo percorrer, que não quero conhecer. mas a porta fechou-se atrás de mim e nao me deixa voltar. Tenho que correr riscor e fazer-me ao caminho embora não queira... tens que escolher o teu caminho, correr riscos... Gosto Muito de Ti

9:17 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

"Vivi tanto tempo no vazio que cheguei a pensar que já fazia parte dele, mas não..."

6:47 da tarde  
Blogger Liliana Bárcia disse...

quando caminhamos com alguém, não importa bem que caminho seguir.. não sabemos se acaba já ali, mas tudo o que acontecer será muito muitobom. Há que aproveitar cada passo que possamos dar, aproveitar todos os bons momentos, espreitar todos os recantos..

11:42 da manhã  

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