domingo, setembro 25, 2005

Diálogo Apaixonado nº5

O desejo. Paira à minha volta voando em movimentos de asas aflitos como uma pomba a pousar. Eu sentado no meio tento abstrair-me do barulho incomodativo e ouvir só o mar. Não o consigo vislumbrar mas o seu cheiro chega até mim ainda húmido por isso não pode estar muito longe. Não precisava necessariamente de chegar lá, o saber que ele estava ali bastava-me, mas não o oiço.
Levanto-me e solto-me das metáforas e eufemismos. Acerco-me a um precipicio e lá ao fundo vejo o mar. Cerro os olhos e inspiro pesadamente. Vou gritar, vou fazer-me ouvir até me queimar a voz, deitar cá para fora o que me atormenta o coração, o que sinto, o que tu és para mim. Vou gritar! Mas no ultimo instante prende-se-me a voz e já não grito. Vejo um velho autoritário a manter-me a boca fechada enquanto me aponta a sua própria boca com um dedo reprovador. Não! Não quero mais palavras de pintar, desta vez vou gritar vou dizer tudo com todas as sílabas. A vergonha e o medo de fazer algo que não quero é que me amarram a voz impedindo-me de te gritar. Mas vou-te gritar, fazer-te ouvir de uma vez por todas o que a mim me atormenta que não saibas. E nesta hesitação deixo que voltem sobre mim as dúvidas, negras como gralhas o seu barulho agoirento invade-me agora.
E se ela não quer ouvir, e se o que tu sentes não é real, e se... Raios! Esbracejo e afasto-as de novo. Chego-me à ponta do precipicio encho o peito de ar e inclino a cabeça para que tudo o que eu diga te chegue. Desta vez nem chego a encher-me de ar para gritar, sento-me na borda e olho o mar ao fundo. Então decido-me a perder a inibição lentamente. Olho o infinito e como se estivesses agora a meu lado começo a falar. De inicio só sibilo palavras sem som, como quem põe um pé na agua antes de entrar para ver se está fria. Depois começo a falar baixinho, conto-te como sinto a tua falta, como a tua imagem se me afigura vezes sem conta, da maneira como as minhas mãos tremem pedindo a presença das tuas, de como passo a vida a morder os lábios procurando algo em que eles já pousaram, falo-te de mim, da minha vida sem ti, e da falta que sem querer me fazes. Então, calmamente, levanto-me e falo um pouco mais alto, explico-te o quão importante és para mim, e que independentemente da tua vontade te tornaste algo que representa muito para mim, que conseguiste reparar algo que estava irremediavelmente condenado, trouxeste sol onde tudo era negro.
Respiro fundo, e grito a plenos pulmões " Gosto de ti!". Sinto uma gota de suor escorrer-me pela testa, sento-me cruzando as pernas e olhando o nevoeiro que se formou com as minhas palavras espero pacientemente que dele saia um grito de resposta.

3 Comentários:

Blogger Celi M. disse...

O post tá demasiado confuso e é bastante pessoal, achei que o devia por aki apesar de tudo mas peço desculpa se for demasiado incompreensivel.

5:24 da tarde  
Blogger SA. disse...

Não está confuso... de todo. é bem claro até. está lindo, como todos os outros. Adoru ti

5:30 da tarde  
Blogger Liliana Bárcia disse...

Eu achei-o excelente e, para mim, não foi em nenhum aspecto confuso. Por vezes queremos dizer tanta coisas mas as circunstancias tapam-nos a boca.. sei lá, parece-me que essas circunstâncias se chamam medos.. eu falo por mim, por vezes quero dizer tanta mas tanta coisa que acabo por não dizer nada, com medo de que as palavras saiam mais cruas do que possam parecer ou, por outro lado, que as minhas palavras se tornem incompreensíveis..

10:33 da manhã  

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