quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Amar apenas

Parece um bocado redutor eu sei. Talvez se o ouvissem através da minha voz, gasta do tempo com aquela gravidade que só a idade traz, entendessem melhor. O amor evolui assim com a idade. Ou talvez tenha evoluído comigo. Agora não consigo perceber. Alias, acho que era impossível perceber. Porque nós só vivemos a nossa vida, só vivemos os nossos amores. Sorrio hoje aquela ideia vã e demasiadamente romântica de que amor só há um na vida. Desculpem-me se me alongo em devaneios mas a idade permite-mo.
E aí está, já viram como uso a idade para tudo o que me apetece? Até para o amor. Parece-me que ela, a idade, está acima do amor nisso dos conceitos que desculpam tudo. Mas o amor é mais universal e mais usado. Sempre aquela desculpa, do é amor, foi por amor, o amor move montanhas. É uma capa. Viram como eu usei a idade? Eu posso dizer, o mundo é uma enorme parvoíce, e vocês até consideram isso se eu disser, a idade mo ensinou. O amor é igual. Triste, triste o uso do amor nos dias de hoje.
Agora um contra, estão a começar a aperceber-se de outro factor que se sobrepõe à idade e ao amor, a desilusão. Vêem-me desiludido. Pois eu digo, usem esses óculos se quiserem, mas o que vos digo não é de quem está desiludido. Tenho na minha mão o nome da minha mulher envolvendo-me o anelar à 48 anos. O maior amor é dela. Mas nunca foi o único. Houve mais antes do dela, e houve depois. Sorrio com o esgar de pensamento. Largo-me agora do vestido de "avô" porque disse isto. Já não me conseguem imaginar com uma mantinha nas pernas. E eu sorrio por isso. Tudo o que eu diga a seguir pode estilhaçar ou recuperar essa imagem.
Filhos. Percebem? O que disse foi o que queriam no fundo que fosse verdade e que recupera a imagem mais fácil do amor. Mas não. Nunca tive filhos, por muito que os tenha desejado.
Já chega de devaneios. Amo hoje com 73 anos, e amei durante grande parte desse tempo. A minha mulher amei-a durante 42 anos, com dificuldades e alegrias. Fui feliz e fui amado. Ela partiu, e o preto que vestia não era nada comparado com o que me enegrecia a alma. Mas aí é que está tudo. O amor existe pronto, não é preciso rosas e velas para que exista. Hoje amo outra vez. Outra mulher. Outro amor. Amar apenas porque assim vivo, amar apenas que é o que sabemos.

5 Comentários:

Blogger Gui disse...

gostei muito deste. outro tema que me toca muito, bem lá no fundo. A maneira como me fazes ver esta história a correr diante dos meus olhos! A maneira como me fazes senti-la! Está tão bonito!

E foi o último desta série fabulosa.*snif*snif*
E hoje, dia do amor. Amemos todos, amemos, apenas!:P

4:20 da tarde  
Blogger styska disse...

gostei muito! gostei da leveza do amor contada com a gravidade da vida e da idade :)
estás cada vez maior :)*

quero mais séries!!

4:28 da tarde  
Blogger Flash disse...

Esta série está fantástica e este ultimo post é a cereja no topo do bolo.

Proponho agora um trabalho a meias: Tu escreves 7 livros e eu arranjo-te 7 pseudónimos.
(ainda pensei em atribuir os títulos mas isso já era muita canseira)

BRAVO!!!

8:03 da tarde  
Blogger SA. disse...

queremos mais....
eu quero!

1:18 da manhã  
Blogger Joana disse...

quero que, um dia, alguém me escreva palavras como estas :)

11:54 da tarde  

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