sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Amar fora

Não me orgulho disso. Pode parecer tão hediondo que nunca me vão acreditar. Quem tem mais de 10 anos de casamento e me lê sabe que não é tão fácil como dá nos filmes. Chegar à velhice com a mantinha nos joelhos numa casa do lago e dizer "Querida, durante estes anos todos nunca te traí" é algo tão sincero como raro. Não sou o único. Claro que isto torna muito mais fácil o que vou dizer. Não digo que seja verdade ou justificação. "Toda a gente tem um caso" dizia-me o meu pai uma vez na casa de férias quando lhe contei. "Isso é só uma maneira de sabermos apreciar o que temos em casa." Mexia na lareira. Não sei se consigo imaginar o meu pai a ter alguém para além da minha mãe. Sempre pacato e de poucas palavras nunca pensei que o meu pai tivesse coragem para tal coisa. Eu tive-a.
Não aconteceu porque quis. Procurei tanto uma relação exterior como a afastei. Aconteceu-me e deixei acontecer. Nos dois sentidos. Deixei que ela acontecesse e deixei que continuasse a acontecer. Casado há 12 anos, a 2 filhos e à habituação ao quotidiano. Uma noite de copos com os amigos. How typical. Acabaram todos muito bêbados muito depressa. Eu também. Sei como nos conhecemos por ela mo confessar no leito de amor depois. E aconteceu assim. Fomos e sentimos. Ela não pareceu importar-se com a minha saída repentina a meio da noite. Chamadas e mensagens depois. Primeiro encontro sóbrio com dificuldade. Tinha medo e respeito pelo casamento. Mas a sua memória era-me tão boa. E aconteceu. Jantar num restaurante longe da cidade. Café e cama. Repetiu-se e começou a crescer algo em mim. Em vez de apreciar o que tinha em casa começava a esquecer. Encontros amontoavam-se e a pouca presença em casa começava a notar-se. Viagens de negócios, serões e afins. Traz-me dor agora que penso nisso. A palavra divórcio começava a dançar na minha consciência. Impossível, família, sociedade emprego. Uma amante é normal, divórcio e casamento não. Triste sociedade.
Continuei assim, amei-a sim. Mais que a minha mulher admito, mas sou um fraco nunca fui capaz de me divorciar. Nem de contar á minha mulher. Ela era indiferente nesta altura. Mas a situação tinha que acabar, o amor reprimido e a culpa começavam a angustiar-me. 2 anos e começava a ser demais. Ninguém me sabia aconselhar, nem o meu próprio pai.
Até que tomei uma decisão. Erradamente, como tudo que fiz. E tomei uma atitude. E agora pesa-me. O amor dela nunca mais o vou ter. O amor da minha mulher e dos meus filhos não sei. Só o saberei daqui a 7 anos. Quando poder amar outra vez. Sem algemas e sem grades.

3 Comentários:

Blogger styska disse...

posso repetir o comentário anterior? =P esta série, esta série... só quero é ler o próximo e o próximo e o próximo! muito bom! :)

3:44 da tarde  
Blogger Gui disse...

lol styska tiraste-me as palavras da boca! Esta série!! Eu a ler este só pensava, Esta Série é um Máximo!!!
Vê se te apressas a escrever outro...e muitos muitos:P

Oh rapaz, Bendito Cérebro te deram!
E bendito coração que decerto, tem, tanta contribuição como o cérebro:)

P.S- O raio do teu blog tem alguma coisa contra mim. Ou então eu tou cega. é a 4ª vez que diz que me enganei nas letrinhas em baixo...humpf

4:16 da tarde  
Blogger SA. disse...

perdi as palavras numa rua qualquer, como aliás acontece sempre...

Loubado!

9:09 da manhã  

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