quarta-feira, novembro 02, 2005

Diálogo Apaixonado nº10

A noite voltou. O frio cortante da dor já me habita o coração por demasiado tempo. As lágrimas já correm livremente e já tudo é tristeza. Quero acreditar, tento levantar-me e correr de novo para ti, continuar a tentar mesmo sem esperança. Mas as pernas falham-se e volto a cair no chão com mais dor. Tenho as pernas doentes de tanto cair e me levantar, a idade já me pesa e a dor que por aqui passou deixou já graves sulcos. No chão as lágrimas voltam-me aos olhos e inundam o pavimento. Choro mas o sorriso já não vem no fim. Só choro, continuo intemporal. Não tenho como contar o tempo que passa por não haver sorrisos que me intervalem as lágrimas, não há o sol depois da tempestade. No céu já não correm estrelas. Proibi-as de tal descaramento quando as lágrimas que derramo vêm delas. Já não rasgam o céu porque houve uma que me rasgou o coração.
O nevoeiro desapareceu sem que dele saisse a resposta que tão pacientemente esperei. O branco espalhou-se pelo ar sem sequer apontar uma direcção. Minto para não sofrer tanto. Era ainda dia quando uma resposta inesperada saiu do nevoeiro e este desapareceu. A resposta perfilava-se longa e eu rapidamente fiquei em sobressalto. O meu coração saltava já sem esperar as novas. Receava a resposta porque ultimamente estive olhando-o com mágoa e tive medo que ela voltasse de novo para mim. E voltou. Não! Não saiu qualquer resposta, assim é melhor.
Altura houve em que hesitei entre a tua voz e os teus lábios. Hoje não tenho dúvidas. A tua voz abandonou-me, tenho a só quando tens os meus lábios, quando mais preciso dela para te encontrar, ela some e eu em silêncio passei a conversar sozinho. Mas é de noite já, e não sei por quanto tempo, e os teus lábios já não quero para mim. Os meus lábios funcionam por mando do coração, não podem viver sem que o coração lhes dê o sangue e nada fazem sem o seu consetimento. Serviam como ligação entre nossos corações mas agora sei não ter o teu coração e o beijo acaba ali na parede fria e dura. Por isso me doem as pernas, de correr contra uma parede na esperança de a quebrar. Já não é medo, talvez nunca o tenha sido e eu me quisesse acreditar que sim, mas agora a verdade não me deixa imaginar mundos mais coloridos quando me aponta o negro. Não me deixa já levantar e correr para ti esperando que a parede se desvaneça.
A dor voltou para me guiar de novo para longe, talvez ela desapareça rapidamente ou talvez fique a ensinar-me uma forma diferente de abrir o meu coração para que dele saiam todos os sentimentos mas não entre a dor. Talvez a dor me atormente de tal forma que o meu coração não sobreviva ou talvez ele sobreviva e fique mais forte e eu possa aprender a ser feliz.


"E ela acabou por existir e eu nela e a febre que me consumia foi a sua vibração como a memória submersa de uma mão na minha face" Vergílio Ferreira in Para Sempre

fim

1 Comentários:

Blogger styska disse...

alguém, uma vez, disse que as coisas mais bonitas são sempre as mais tristes, eu concordo. este teu texto é assim... intenso, triste... e talvez por isso mesmo seja tão bonito.
essa citação no fim encaixa perfeitamente aqui. gostei mto*
e qto ao resto só posso dizer que se toda essa dor é verdadeira, ela há-de passar embora nem sempre seja isso que se sente...
beijinho*

10:53 da tarde  

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