terça-feira, fevereiro 13, 2007

Amar sequer

Se calhar sou eu. Se calhar a minha ideia de amor ainda é a dos corações e príncipes que me salvam do dragão. Eu sei que é ridículo, e claro que eu não espero que me salvem do dragão. Ninguém me salva sequer de um domingo fechada em casa. Mas às vezes podia. Tenho 37 anos, um gato e um T2 com um quarto vazio. Tão vazio como eu. Acho que no liceu já esta procura da perfeição do amor me impedia de não ser só. Eu chamo-lhe perfeição engraçado. Desde ai que nunca me deixei enlaçar por ninguém por achar que o sentimento não era aquele. Acho que nunca dei mais que dez beijos a ninguém. Pena é o que te escorregou direito ao coração. Aposto que te saiu "Coitada" da boca. Não isso que falo. A complacência é o que me atiram à mesa em almoços de família e jantares de amigas. Já nem sei se as tenho.
Lembro-me muitas vezes do Bernardo. Esse deve-me ter arrancado uns nove. Noite numa discoteca, daquelas que se enchem de gente que já não dança, só olha e comenta. Sorrisos, e flirt, muito flirt. Bebidas e gargalhadas. Tinha os olhos verdes. Lembro-me que me veio trazer a casa, e que ele se fez notoriamente interessando em subir os 9 andares do meu prédio, mas não estava num cavalo branco. Solto uma gargalhada. Não há muito tempo já.
O cavalo branco dá-me espaço para contar aquilo que quero dizer. A perfeição disse eu lá atrás, ou acima, já não faz muita diferença. Convenci-me que era isso que eu buscava. Que era a pureza e perfeição que ambicionava. Que tudo o que me agradava num homem era a perfeição que não via. Estou-me a repetir. Que se foda! Já não me importa. Agora e enquanto o coelho branco me chama apercebo-me que tudo o que eu procurava é um naipe de cartas, é um boneco de plástico, é um reclame de São Valentim. Foram as caixas de cereais e as pipocas do cinema, as montras de perfumarias, e sei lá já que mais. Foram eles que me ensinaram assim. Eu acreditei. Foi a cinderela! Foram todas essas que destruíram o coração em criança. Não falta muito tempo.
Tomei à meia hora os comprimidos para amar. Que divertido soa agora! Parece que posso ver um reclame a anuncia-las no cartaz em frente à paragem lá de baixo. Já não paro de rir. A culpa é do coelho de óculos e de chapéu. É tão engraçado... Vai-me levar, vai-me levar para lá para baixo, onde há príncipes solteiros, vestidos de azul e vermelho. Azul.... Vermelho. Já vou.... Já ouço o amor gritar-me aos ouvidos... o amor sequer.

3 Comentários:

Blogger Gui disse...

.................................

uma gargalhada, uma admiração contida, um suspiro...não de pena, não. De tristeza.

What can I say... tu gastas-me as palavras!

e já só falta um...*snif*snif*

5:00 da tarde  
Blogger styska disse...

so incredibly sad...
mas não uma tristeza qualquer, aquela tristeza que só a dureza da realidade traz... porque é a isso que sabe o teu texto: realidade. porque apesar de ser uma estória quando se lê sente-se como real. e fica-se triste. como só o peso da vida nos consegue deixar ficar.
e é por isso que és tão bom.

10:49 da tarde  
Blogger SA. disse...

Cada vez sabe melhor ler-te.

E cada vez a surpresa é maior.

=)*

9:03 da manhã  

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