segunda-feira, janeiro 16, 2006

Mentido


Azul. A água reclamava um lugar junto à areia com estrondosa vontade. As nuvens iam flutuando acima do horizonte. Ela caminhava com um sorriso enorme na face. Na mão trazia a mão dele e no peito a sua imagem. A felicidade só não estava com ela quando ele também não estava.O vento espalhava-lhe os cabelos e a mente, levando-a para o país cor-de-rosa. Ele a seu lado permanecia colado ao cinzento do chão. O cinzento teimava em não o largar. Queria voar, sorrir com ela, mas a verdade é que ela já não lhe sorria no seu coração. Ele já não sabia o que era sentir o turbilhão no estômago, o fogo no peito. Ela já só vivia na mão dele e nos lábios. O seu coração cinzento já não permitia a existência colorida no seu interior. Já não sabia se a cor se tinha escorrido ou se nunca tivera o vermelho do fogo. Ela sentiu-lhe a mão fria e levou-a até ao seu sorriso para a beijar. O cheiro dele sobre a mão fria percorreu-lhe o corpo deixando o calor para trás como lembrança.Olhou o mar revolto à sua frente e sentiu a sua felicidade chocar contra ele. A placidez calma do seu coração contra as agitadas águas que se espumavam. Dentro de si o mar vermelho já se acalmava e o sentimento passara a um fogo lento sem agitações. Contudo ele olhava o mar entristecido. Não o preocupava o mar, nem o olhava sequer. Os seus olhos estavam para além do azul e a sua mente focava tudo menos as ondas que o vento soprava.Cada vez se tornava pior. No início o arrependimento só vinha depois dos encontros quando percebia que havia sido um mero actor na peça dela. Agora os remorsos já o consumiam inteiramente e a sua vista nublava-se à beira dela fechando-se então na sua mente. Ela olhava-o atentamente. Tal como uma criança vendo algo novo, os seus olhos brilhavam com o reflexo dele. Ele sentindo o olhar dela sorria, um actor fazendo de cavaleiro vitorioso sorrindo à multidão que o aplaude. Um sorriso de actor. Um sorriso que não é dele. E ela olhando o sorriso sentia o fogo aquecê-la do coração aos pés. Colou-lhe a boca e navegou no amor sentindo a felicidade ondular nos cabelos . Ele repetiu a acção a que já estava habituado. Não o fazia com a sofreguidão dela ou com o calor no coração, deixava que a sua boca se comporta-se de maneira puramente carnal sentindo apenas o beijo e não a união. A parte mais dificil erguia-se no fim do beijo e por isso não deixava de a beijar. O confronto de olhares que o fim do beijo impunha tornava-o indesejado, mas quando já ela se apoderara da sua boca o seu fim era temido por a ter de olhar. Nada lhe custava mais do que ela lhe ver o espelho da sua alma de tão perto. O medo que ela lhe visse nos olhos o que ele ainda não fora capaz de lhe dizer tornava tão angustiante o momento. Ela desprendeu-se dele e abriu os olhos para ter a certeza que era real. Olhou o castanho dos seus olhos e sentindo-se aprisionada nos olhos dele sentindo-o ainda nos seu lábios ao distende-los. Mas rapidamente eles fugiram tirando-lhe o equilibro do sorriso. Voltou a olhar o mar tentando reequilibrar-se. Os olhos dele haviam-se tornado esguios mas ela falando a si mesma demovia-se de culpar os mesmos por alguma coisa mal resolvida por ele. Acreditava piamente que eram apenas fantasmas voando do passado trazendo-lhe problemas que haviam sido uma constante mas que ela não iria deixar que eles a assustassem de novo. Ele olhava de novo o mar procurando no azul a solução que lhe escapava. Voaram os dois à superficie da água deixando um risco até ao horizonte. Ele voava procurando o vermelho no meio do azul, ela voava por o ter ao seu lado. Ainda que juntos e sem que se apercebessem disso voavam separados.

1 Comentários:

Blogger styska disse...

hmm...
(qd te apanhar no msn quero falar deste texto)
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1:49 da manhã  

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