Areia
Dificilmente estão a pensar num número inferior a uma centena de pedras. Quando pensam em areia digo. E é impressionante que ninguém visualiza uma ou duas pedras por si só. Cada pedra que compõe a areia é uma história por si, cada pequeno pedaço. Acho que só damos conta de alguma pedra quando ela é demasiado invulgar, ou de um material diferente. Mas numa mão cheia de areia não se vê um único grão. É um verdadeiro exercício de paciência sequer contar o número de pedras que compõe uma mão cheia de areia. É igualmente difícil descrever todos os grãos que contribuíram para este amor de areia.
Tomáš já caminhava pela praia de Tereza bem antes de se conhecerem. Digo-o no sentido figurado já que no país deles não há mar. Digo-o porque já eram familiares alguns grãos de areia. Mas não me interpretem mal. Eles não se conheciam, habitavam espaços comuns sem se conhecerem. Por isso é que quando finalmente se falaram não foi difícil partilharem viagens e tempos. Tinham sempre outra razão para se encontrarem que não a presença um do outro. Isto pode até parecer mau, mas deu-lhes a capacidade de juntarem grãos sem terem de aceitar a areia. Não sei se me faço entender. Se tiverem 5 pedrinhas na mão não lhe chamam areia pois não? Ao terem os mesmos espaços, os mesmos caminhos não eram obrigados a chamar nada ao que tinham na mão. Isso é a melhor maneira de aceitar a areia. Mas não significa que seja fácil.
Se já estiveram na praia deitados com roupa normal aperceberam-se que a areia se mete em todo lado. Ai reside o seu principal problema. Claro que gostamos de sentir a areia nos pés mas se encontramos uns grãos no pescoço já não achamos tanta piada. E foi ao sentir a areia onde não queria que Tereza se afastou. Tomáš sem saber estava a por areia onde não podia. Felizmente não se aperceberam que habitavam os mesmos caminhos. Foi então que o caminho os voltou a juntar e a deixar grãos nos seus sapatos quando iam para casa. Ambos fingiam que não sentiam nada, mas o andar tornou-se impossível. Tereza começou a habituar-se ao calor da sua sombra, Tomáš já não vivia sem o sorriso dela.
E grão a grão foram construindo o seu amor. Sempre sem pressas e observando cada pedra nova com a mesma curiosidade com que olharam a primeira. Até que chegou a pedra de uma casa juntos, a de uma vida juntos, até a pedrinha branca e dourada. Chegou uma pedrinha chamada Táňa e uma chamada Petr. E se me perguntarem a mim eu acho que vem outra pedrinha a caminho.
3 Comentários:
estava mesmo curiosa para saber de era feito este amor e depois de ler só penso: areia, perfeito! :)*
Nemůžu bez tebe žít, miláčku*
odlncdc*
Impressionante esta capacidade de ver tão mais longe e escrever muito mais perto...
Está lindo lindo, como n poderia deixar de ser, mas confesso que este me deu um gosto especial, mais ou menos aquele: "Eu estou a descobrir uma coisa fantástica!"
Lindo Lindo este amor de areia. Adorei!! Adorei!
Como ele se vai entranhando assim pouquinho a pouquinho...
e como é bonito de ver!
Um beijinho pa ti:P
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