quarta-feira, abril 20, 2011

Escrito

Em silêncio gritante, espalha-se o zumbido constante da ausência de sons que batam no meu ouvido. Respiro fundo e desço ao cimo da consciência breve. Esqueço-me facilmente do que não me lembro. Está um dia bom para contar números á espera de um trovão. Inspiro e deixo que alguém se escute de vez e rompa com este infinito zumbir. Há algum mar ainda nos meus olhos e alguma ferrugem nos meus dedos. Nas minhas mãos. Se houvesse talvez um clac repetido e em vários tons a dizer-me alguma coisa. Mas as palavras são silêncio em teclas mudas aos ouvidos empedernidos que me ladeiam a cabeça. E o silêncio é silêncio sem palavras. E eu sem palavras.
Deixo-me então falar neste espaço branco e fechado que é uma folha de papel fictício, em que escrevo ficções. Fechado no espaço branco da minha cabeça em que a minha voz ecoa sem que os meus lábios se movam. Artificio de mago pouco dotado de talento. Fogo de vista que arde sem ser. Ardor de garganta deslocado no espaço que me distancia a voz do pensamento.
Cortar a voz toda em palavras erráticas, nómadas. Fechar a boca num castelo todo ele prateado que brilha vermelho culpando os comprimentos de onda. Escrever sem personagens nem história a mentira que um sentimento pode mentir. Não há falas, nem noticias, nem dedos que não se sentem. Não há palavras que se contentem. Não há rimas que aguentem, toda a minha poesia.
Das mãos sem algemas de mundo algum,

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