terça-feira, fevereiro 03, 2009

Quando eu era mais novo, havia uma coisa muito bonita que era a sedução

EA porta abre-se com uma sineta. Ele tira o casaco molhado e pendura-o num bengaleiro na entrada. Atrás do balcão o empregado prontamente tirou o cachimbo à máquina. Ele caminhou em direcção ao canto e sentou-se na mesa de olhos virados para a porta. O café chegou com o seu aroma a espalhar-se com a humidade. A humidade entrou também pela porta. A sineta fê-lo olhar pela porta e ver uns cabelos loiros que olhavam o guarda-chuva a fechar-se. A iminência do olhar dela fê-lo olhar de novo para o café que fumegava. Deixou cair o açúcar branco contra todo aquele castanho e esperou que ele se afundasse e que ela se sentasse. Pegou na colher e durante os movimentos rotativos vislumbrou-a já sentada junto ao balcão. Olhava para a lista com apetite. Ele olhava-a a ela. Apreciava-lhe a beleza. Os cabelos loiros caiam-lhe na direcção da mesa e alguns escondiam-lhe a testa. A boca de um vermelho pálido. Esticava de vez em quando os lábios como sinal de desaprovação do que lia. Ela subiu a franja com um gesto de cabeça, que como o fumo branco indicava que a sua escolha estava feita. Viu-lhe os olhos pela primeira vez, profundos como o nevoeiro de neve de janeiro. Rapidamente desviu o olhar antes que fosse apanhado. Pousou a colher no pires e levou a chávena à boca. Usando os dedos como escudo infantil, levou de novo os olhos à recém-chegada. Ela olhava o espaço vazio contemplando algo que não estava lá. Enquanto ele deixou cair o café na boca, ela moveu o vazio na direcção dele. Os olhos encontraram-se por pouco que pareceu muito. Como o flash das lâmpadas antes de se fundirem. Ele pousou então a chávena e pela periferia do olhar viu a mesa dela ser ocupada por uma chavena e um prato. Avançando na direcção dela com o olhar pousou na vitrina que ladeava a mesa dela. Viu o seu reflexo enquanto banhava o pacote de chá na sua chávena de café proporções desajeitadas. Enquanto fazia isso olhava para ele. Ele sabia-o, mas ela não sabia que ele o sabia. Como uma dança. Como uma dança foram-se olhando alternadamente enquanto ela esvaziava a sua mesa e ele esvaziava o seu pulmão de fumo. Quando terminou o seu cigarro ele ergueu-se da mesa. Do bolso retirou a moeda que deixou no tampo da mesa. Caminhou na direcção dela. Desta vez de olhar posto nas luvas que tentava calçar. Ela olhava para ele. Ele sabia-o e ela também. Ele desfraldou um sorriso enquanto passava por ela. Saiu para a rua onde a chuva ainda se fazia espalhar pelo vento. Caminhou mais uns metros até ouvir uma campainha. Nesse instante parou.

3 Comentários:

Blogger styska disse...

bastou-me ler o título para ficar com um sorriso de orelha a orelha! =) e não se desvaneceu com a leitura. adorei!*

10:51 da tarde  
Blogger Gui disse...

continua a ser coisa bonita, essa sedução...e descreveste-a mesmo bem...



agora eu, como romântica incontornável que sou, fico aqui a imaginar o resto da história, que isto de romances iniciados e deixados no ar mexe muito comigo...

10:42 da tarde  
Blogger JoGiv. disse...

Quem canta?

9:48 da manhã  

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