segunda-feira, maio 28, 2007

Amor de Sofá

O lento respirar escorria entre as almofadas. A TV muda criava na sala ambientes de mil cores. A cara pálida dela debruçada nas costas dele enchia-se da mesma cor que inundava a sala. O seu braço circundava o tronco dele, a mão espalhada na sua barriga. A sua cabeça ondulava coma respiração dele enquanto a dele se afundava no canto do sofá. A mão dele desmaiava apontando o livro que deixara cair do sofá. Apesar do sono os cobrir como um manto invisivel os olhos dele permaneciam abertos. Olhava a carpete vermelha e os sapatos espalhados nela.
Lembrava-se da primeira vez que soltara os sapatos naquela carpete. Não morava ali ainda. A carpete, ele já se moldava nas paredes que agora se tingiam de verde com o resumo de um jogo de futebol. Lenta e pesada herança a do tempo. Queria voltar a esses dias em que a carpete vermelha morava na casa dela. Em que lhe retribuia o sorriso com flores e chocolates. Doces tempos. Queria voltar a saborear esses sorrisos. Agora pareciam cair numa noite infindavel sem o amanhecer do sorriso dela. Um suspiro deslizou-lhe dos pulmões.
Os olhos dela abriram-se de repente. Até que se certificaram onde estava afinal o resto do corpo e descansarem de novo. Era assim agora. O conforto das suas costas, o conforto do seu calor, o conforto de o ter. Era agora mais feliz por não ter que arriscar o frio da solidão. E tudo era tão bom. Do primeiro dia a esta noite. Na televisão um casal discutia num qualquer anuncio para colocar a mulher no seu lugar de subordinada empregada . Era tão feliz por não ter de passar por isto todas as noites. De não o ouvir levantar a voz à tanto tempo que nem se lembrava da ultima vez. A placidez da felicidade. A doçura do tranquilo amor.
Os olhos dele colados agora no ecrã. Preferia uma discussão. Preferia que ela se irritasse para que a tempestade lhe voltasse a mostrar que havia um sol. Agora tudo era este calor que já nem era quente. A a sua pele preencheu-se de pequenos pontos.
Ao ver o arrepio dele ela perguntou:
-Tens frio? Vamos para a cama. E com a sua propria resposta sentenciou mais uma noite. E mais uma noite sentenciou mais um pedaço do vermelho da carpete.

5 Comentários:

Blogger Flash disse...

As tuas palavras são como fragmentos de uma imensa tempestade...
O que escreves é dinâmico.
Quem te lê, entra num caleidoscópio de sentimentos que cada um intrepreta à sua maneira.

Acho que sinto algo de genial neste texto... (como quase sempre)

Abraço puto!

12:00 da manhã  
Blogger styska disse...

concordo com o teu tio, cada um interpreta as palavras à sua maneira. e os sentimentos também...
podia dizer tantas coisas sobre este texto, vejo-o de tantas maneiras... acho que vou ler outra vez!

ah! e gostei muito*

12:06 da manhã  
Blogger Gui disse...

Ainda estou zonza.
Sinceramente vi o logotipo e pensei, huum ainda vai haver novidade na Viagem. E Voila...

E agora estou zonza...porque, rapaz, és brilhante. E está lindo e magnífico e arrepiei-me e entristeci e reconfortei e desejei ter umas costas quentes em quem adormecer hoje, mas não como as dele, não naquela situação.
Noutra situação, lá vai um mês...

Brilhante PesKas! Muito Brilhante!

1:05 da manhã  
Blogger Lurdes Pereira disse...

Muito bem descrito o mundo interno de algumas mulheres...A necessidade de segurança, a rotina das respirações partilhadas...A carpete é o sinal vermelho dessa relação...
A carpete é vermelha, mas o sol está pálido...........
Muito bom o teu "olhar" de pardalito serrano!!

Beijinhos!

10:13 da tarde  
Blogger Gui disse...

FELIZ DIA DO PESCADOR!!!

E passa por lá que tens uns peixinhos fresquinhos para pescar...

1:39 da manhã  

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