sexta-feira, abril 04, 2008

Robot

Os dedos redondos metálicos, o tronco e as pernas em rectas perpendiculares ao chão. Caminho em tons de cinza e o mundo aparece-me em grelhas verdes. Os sensores falam-me do perigo. O perigo não o sinto. Não sinto. Ajo, executo, não penso. Não vivo. Vivo. O metal arranha-me os movimentos, o vidro acompanha-me o olhar. Suspender, hibernar, desligar. Não durmo. Reparar. Reparo em tudo e em todos. Não reparo em mim. Eu não existo. Não sou lata mas conservo-me artificialmente entre suplementos e sintéticos. Durmo. Acordo. Nunca. Suspendo, reinicio. Eu não existo. Faço-me existir por aquilo que faço. Faço existir. A ti aos outros. Tu existes porque eu te faço existir. Mas como posso eu existir. Quem me faz? Made in China. Made in Paraíso. Since Adão. Caminho em cinzento. Verde verde o olhar. Grelhas de vida, grelhas para a vida. Tudo segundo plano. Nunca existir. Executar, cumprir, seguir, nunca fazer. Não penso. Não olho, meço, avalio e registo. Não ouço, gravo e edito. Não cheiro, recolho e analiso. Não saboreio, testo e indico. Não sinto, nada. Não existo, só faço existir.

2 Comentários:

Blogger Gui disse...

( nem sei porque te faço as vontades todas )

Gostei e nota-se que foi assim, de um só fôlego. Gostei como gosto sempre, da forma como sabes ser diferente sempre com a mesma mestria.

Gosto da tua nova ocupação. Faz-te escrever muito muito:)

11:28 da manhã  
Blogger styska disse...

muito bem (d)escrito :)
admiro essa tua capacidade/vontade de inovar e progredir! sempre com ideias diferentes, sempre a surpreender, sempre a ser melhor.
*

11:22 da tarde  

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