domingo, maio 08, 2005

Máscara

Sentei-me no telhado a ver o mar. O tom vermelho anunciava o adormecer do astro-rei. E o meu acordar, vivo agora de noite na esperança que passe mais despercebido. Que ninguém veja a máscara lascada que trago contrafeito. Não a consigo tirar e já a aceitei como fazendo parte de mim. Mas a cada olhar de desinteresse quero tirá-la, arrancá-la, desfaze-la em pedaços infímos. Sorrio feliz com nadas, com eles tenho de me contentar. Sinto-me feliz por ver um sorriso de cumplicidade, um gesto de carinho fraternal. Mas são as minhas únicas felicidades. Desespero por isso. Não passo de uma mesa tosca e riscada que serve para a familia mas que as visitas nem podem ver. E de tanto me habituar a isto ganhei medo as visitas, habituei-me a ser usado no dia-a-dia mas não nos Dias que me escondo. Mas quero ser especial, quero ser um convidado, quero ser desejado.
Este mundo fútil tudo me nega. Nega-me o desejo do próximo, nega-me a felicidade de um olhar interessado. Sou uma nódoa, ainda que com um padrão bastante bonito, nunca deixarei de ser uma nódoa e nunca me olharão sem o nojo que me é devido. Por um dia queria ser bonito, queria ser objecto de sorrisos, mas dizer isto é fútil, sentir isto é incoerente, por isso me calo no silêncio angustiado.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

posso sentar-me ao pé de ti?

12:33 da manhã  
Blogger Celi M. disse...

Podes. O sol não demora muito a pôr-se por isso não demores. E por favor, n tragas a máscara.

4:04 da tarde  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial