sexta-feira, junho 02, 2006

Um grito murmurado

Hoje encontrei o teu cheiro nas minhas mãos. Assim de repente, lá estava ele na minha mão gritando a ausência da tua mão. Estranho encontrá-lo hoje, hoje que já nem me lembro do calor da tua, hoje que já nem sei o timbre da tua voz. Ontem os meus olhos foram vitimas de toda esta ausência. Chorei-os mesmo sem eles quererem, espremi-os até sair de dentro de mim a tua presença. Mas as lágrimas mancharam as mãos e hoje o teu cheiro invade-me o espirito cada vez que inspiro. Não queria que saisses de mim para ficares nas minhas mãos. Não queria que saisses de mim. Queria-te ter como minha, oferecer-te presentes a cada instante, sorrir com os teus olhos a cada momento, deixar-te descobrir no meu chão constelações que não sabias existirem, inspirar este cheiro de que agora me alimento directamente do teu pescoço, e carimbar nas tuas mãos as minhas para que nunca te esquecesses o sitio onde te segurar. Não queria que saisses de mim. Mas tu queres sair e eu já não te posso agarrar. Deixo-te sair e levar-me o que trazia antes no peito pintado de vermelho. Mas deixas na minha mão o teu cheiro, deixas em mim algo teu. Para me lembrar? Para me esquecer? Para que nunca possa viver sem ele? Ou para que te continue a buscar mesmo na escuridão mais negra?
Deixo-te a porta aberta, deixo-te entrar e sair até se quiseres, diz -me só se queres a chave, para que não me arrombes a porta de todas as vezes que passas. Eu estarei no mundo a cheirar-te nas minhas mãos. Mas à meia-noite espero-te sempre nas escadas , de sapato de cristal na mão. Só tens que querer calçá-lo.

4 Comentários:

Blogger Gui disse...

Lindo, LINDO mesmo!!! Oh moço já te disseram? Tu tens talento...a profundeza dos teus textos toca-me ao ponto de me comover!
Continua!P'ra sempre, se não for pedir muito...

Bxinhuu

8:25 da tarde  
Blogger SA. disse...

Um dia destes vou deixar de comentar. Tudo o que digo é sempre mais do mesmo:

Gostei*

5:03 da tarde  
Blogger styska disse...

:)









=P

12:25 da manhã  
Blogger Liliana Bárcia disse...

=')

lindo.. a sensação de permanência no meio da ausência..

10:14 da manhã  

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