quinta-feira, outubro 05, 2006

Tudo isto é teu.

Tudo isto é escuro. Há um balançar de cabeça. O tempo desce em vibrações pesadas e grossas que abanam tudo. Há um cheiro a pão para fazer lembrar a fome que nunca sossega. As traças vão e vem trazem o cheiro do mundo e levam o meu sopro para o mundo. Não vejo luz mas pela cor do chão sei avaliar o dia ou a noite. Como antigamente te via a mentira e a verdade no escuro dos teus olhos. Antigamente. Já tudo isto é antigo, até o cheiro a pão. Tudo isto é o que dança no peito antiguidade. Antigo como eu. Já ainda tudo isto não existia e já a escuridão me habitava. Mesmo a teu lado era escuro, escuro ao pé de ti que trazias a claridade de uma vida. Tudo isto é gelo. Um gelo negro que me sai da boca a cada exalo. Frio, mas não aquele frio alvo da neve, não aquele da geada que cobre as manhãs de Janeiro. Um frio como aquele que me atiravas com os olhos se fazia algo de errado. Tudo isto já é teu. Todo eu, ou o que resta de mim. Ainda que possa apodrecer nesta escuridão fria e faminta, ainda assim tudo isto será teu. Ainda assim o meu eu será teu, teu para usares ou para ornamentares a tua sala de troféus. Tudo isto é teu.

5 Comentários:

Blogger Gui disse...

"Um frio como aquele que me atiravas com os olhos se fazia algo de errado."

Brr ate gelei com esta frase...akeles olhares que matariam se pudessem, quase...

Oh pepé tens de ficar etilizado mais vezes lololol

Gostei como sempre...e já tinha saudades, alias, continuo a ter saudades da sensação de chegar a casa e ter uma nova obra prima para ler...

um beijo.Na parte nua da cabeça:P

6:13 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

perfeito, lugubremente perfeito ...
e encaixa tão bem quando leio e penso ...

6:20 da tarde  
Blogger *Sphynx* disse...

mais uma vez as tuas palavras surpreenderam a mnh alma!!

concordo com a margarida, não há frio mais cortante do k akele criado por um olhar...

é tão bom ler-te... :)

beijo ***

1:55 da manhã  
Blogger W disse...

que bonito!

2:21 da tarde  
Blogger SA. disse...

"vergonha de não saber ser melhor, como tu"

tu arrasas-me, é tudo.

e eu a sentir-me pequenina encolhendo-me na cadeira....

4:53 da tarde  

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