sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Aqueles de quem não escrevemos

Estende a mão no frio de uma janela de Janeiro. Na ponta do indicador surge ele de violino ao ombro. No ombro ela de saia negra. No negro da alma gravilha calca-se e descalça-te. O violino chora, chora e sussurra com a ondulação do pequeno cabelo dele. O cabelo dela esvoaça enquanto uma pirueta marca no ar congelado uma flor vermelha. Os cabelos dela são relâmpagos e os dedos dele são colcheias.
Fecha os olhos e ouve o violino chorar. Chora e chora sem dor. O tempo que esmaga e faz doer, as cordas que vibram e fazem doer. Abre os olhos vê a bailarina dançar. Abre a palma da mão e deixa-a dançar. Sente a dor fugir até à mão gelada onde o sangue já não vai onde a luz se perdeu sem aquecer onde tudo é tão pouco e tão pouco é tudo onde já dança a bailarina. Deixa que ela espalhe o escuro sem perder de vista a luz. Deixa-a falar:

- Si tu veus je peux
danser danser danser
jusqu'au vent souffler
jusqu'à la pluie mouiller
jusqu'au froid tuer

Deixa o violino chorar. Deixa-te suspirar e soprar. Deixa-te chorar e molhar. Deixa o frio
deixa deixa agora e vem dançar, que o violino toca contigo, dança e dança contigo voa e o tempo contigo. O violinista, na ponta da tua vida larga o violino no teu colo agora deixa a musica sair de ti.