quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Amar apenas

Parece um bocado redutor eu sei. Talvez se o ouvissem através da minha voz, gasta do tempo com aquela gravidade que só a idade traz, entendessem melhor. O amor evolui assim com a idade. Ou talvez tenha evoluído comigo. Agora não consigo perceber. Alias, acho que era impossível perceber. Porque nós só vivemos a nossa vida, só vivemos os nossos amores. Sorrio hoje aquela ideia vã e demasiadamente romântica de que amor só há um na vida. Desculpem-me se me alongo em devaneios mas a idade permite-mo.
E aí está, já viram como uso a idade para tudo o que me apetece? Até para o amor. Parece-me que ela, a idade, está acima do amor nisso dos conceitos que desculpam tudo. Mas o amor é mais universal e mais usado. Sempre aquela desculpa, do é amor, foi por amor, o amor move montanhas. É uma capa. Viram como eu usei a idade? Eu posso dizer, o mundo é uma enorme parvoíce, e vocês até consideram isso se eu disser, a idade mo ensinou. O amor é igual. Triste, triste o uso do amor nos dias de hoje.
Agora um contra, estão a começar a aperceber-se de outro factor que se sobrepõe à idade e ao amor, a desilusão. Vêem-me desiludido. Pois eu digo, usem esses óculos se quiserem, mas o que vos digo não é de quem está desiludido. Tenho na minha mão o nome da minha mulher envolvendo-me o anelar à 48 anos. O maior amor é dela. Mas nunca foi o único. Houve mais antes do dela, e houve depois. Sorrio com o esgar de pensamento. Largo-me agora do vestido de "avô" porque disse isto. Já não me conseguem imaginar com uma mantinha nas pernas. E eu sorrio por isso. Tudo o que eu diga a seguir pode estilhaçar ou recuperar essa imagem.
Filhos. Percebem? O que disse foi o que queriam no fundo que fosse verdade e que recupera a imagem mais fácil do amor. Mas não. Nunca tive filhos, por muito que os tenha desejado.
Já chega de devaneios. Amo hoje com 73 anos, e amei durante grande parte desse tempo. A minha mulher amei-a durante 42 anos, com dificuldades e alegrias. Fui feliz e fui amado. Ela partiu, e o preto que vestia não era nada comparado com o que me enegrecia a alma. Mas aí é que está tudo. O amor existe pronto, não é preciso rosas e velas para que exista. Hoje amo outra vez. Outra mulher. Outro amor. Amar apenas porque assim vivo, amar apenas que é o que sabemos.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Amar sequer

Se calhar sou eu. Se calhar a minha ideia de amor ainda é a dos corações e príncipes que me salvam do dragão. Eu sei que é ridículo, e claro que eu não espero que me salvem do dragão. Ninguém me salva sequer de um domingo fechada em casa. Mas às vezes podia. Tenho 37 anos, um gato e um T2 com um quarto vazio. Tão vazio como eu. Acho que no liceu já esta procura da perfeição do amor me impedia de não ser só. Eu chamo-lhe perfeição engraçado. Desde ai que nunca me deixei enlaçar por ninguém por achar que o sentimento não era aquele. Acho que nunca dei mais que dez beijos a ninguém. Pena é o que te escorregou direito ao coração. Aposto que te saiu "Coitada" da boca. Não isso que falo. A complacência é o que me atiram à mesa em almoços de família e jantares de amigas. Já nem sei se as tenho.
Lembro-me muitas vezes do Bernardo. Esse deve-me ter arrancado uns nove. Noite numa discoteca, daquelas que se enchem de gente que já não dança, só olha e comenta. Sorrisos, e flirt, muito flirt. Bebidas e gargalhadas. Tinha os olhos verdes. Lembro-me que me veio trazer a casa, e que ele se fez notoriamente interessando em subir os 9 andares do meu prédio, mas não estava num cavalo branco. Solto uma gargalhada. Não há muito tempo já.
O cavalo branco dá-me espaço para contar aquilo que quero dizer. A perfeição disse eu lá atrás, ou acima, já não faz muita diferença. Convenci-me que era isso que eu buscava. Que era a pureza e perfeição que ambicionava. Que tudo o que me agradava num homem era a perfeição que não via. Estou-me a repetir. Que se foda! Já não me importa. Agora e enquanto o coelho branco me chama apercebo-me que tudo o que eu procurava é um naipe de cartas, é um boneco de plástico, é um reclame de São Valentim. Foram as caixas de cereais e as pipocas do cinema, as montras de perfumarias, e sei lá já que mais. Foram eles que me ensinaram assim. Eu acreditei. Foi a cinderela! Foram todas essas que destruíram o coração em criança. Não falta muito tempo.
Tomei à meia hora os comprimidos para amar. Que divertido soa agora! Parece que posso ver um reclame a anuncia-las no cartaz em frente à paragem lá de baixo. Já não paro de rir. A culpa é do coelho de óculos e de chapéu. É tão engraçado... Vai-me levar, vai-me levar para lá para baixo, onde há príncipes solteiros, vestidos de azul e vermelho. Azul.... Vermelho. Já vou.... Já ouço o amor gritar-me aos ouvidos... o amor sequer.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Amar tudo

Ainda tenho guardado sorriso daquele dia. Toda a gente me gritava que não me podia atirar assim. Que ainda o conhecia há pouco tempo, que as coisas têm tempo. Não quis saber. O mundo parece tão pequenino quando quem nos dá a mão é gigante. Ouvia os ralhetes e recomendações e sorria as respostas sem me importar. Comentários, bocas menos próprias, apelos. Nada tocava o sorriso que ele deixava lá. A minha família batia na tenra idade, no emprego pouco estável, na verde relação. As minhas amigas na história dele, nas histórias de divórcio, nas histórias de vida fechada em casa a tomar conta dos filhos. Os meus amigos atiravam piadas sobre a traição, a monotonia e o "amarrar".
Lembro-me bem melhor das flores na igreja do que dos comentários deles. Nesse dia toda a gente sorria mais. Já estava feito e era inevitável. Recordo-me do sabor do beijo. Da festa e da alegria que explodia em mim. Explodia mesmo, não era aquela euforia, mas a alegria bestial sem medos ou preocupações. O dia mais importante da minha vida. Foi assim que o rotulei dias antes e durante dias depois. Era tudo mais novo ainda que o vestido e o novo círculo dourado que me cobria a mão. O acordar, o jantar e o viver. Habitar a mesma cama, a mesma casa e a mesma casa-de-banho. Sorrir mesmo enquanto lavava os dentes. Dormir no calor, acordar no calor. Adormecer no sofá com 23 anos e ir para cama com 5, carregada e coberta por ele. Amanhecer com torradas e café. O belo novo. E tê-lo mesmo. Ele ser meu. O seu sorriso e tudo. Amar-lhe tudo. Dos pés à cabeça, do riso à lágrima, dos carinhos às discussões. Era tudo meu. Tudo.
Pelo menos assim julguei. E tomei-o como meu. Tive-lhe a certeza e deixei de me agarrar. Vivia despreocupada e deixei de me preocupar. Vivia segura e deixei de o puxar. Tudo tem que se renovar, tudo. Até o amor. Tomei o casamento por um contrato de amor vitalício e deixei de amar. Sem amor. Sem a luz do amor, ele perdeu a capacidade de distinguir a minha frente das costas. Perdeu-se no escuro delas, no escuro da minha indiferença. Perdi o amor. O amar já tinha eu perdido. Perdi tudo.

domingo, fevereiro 11, 2007

Amar como?

Desde sempre foi assim a dois. Nunca fomos de grandes números. Dois quartos, dois pratos na mesa, dois. Nem avós nem primos nem sequer irmãos. Só eu e ela. E a minha mãe. Nunca tive outra vida por isso não a sei melhor ou pior. Soube-as assim e fui feliz assim. Tenho avós e primos mas nunca se acercaram. Só quando comecei a usar os óculos da idade é que percebi que tinha a ver com o facto de sermos dois. Que eles não se aproximavam, digo. Famílias às direitas, percebem o que digo? Nunca fomos de direitas, eu e a minha mãe. Fomos de todo o lado, felizes em todo o lado. Saltamos de casas, saltamos de trabalhos da minha mãe e de escolas. Mas éramos felizes assim a saltar. Deu-me a vida toda. Escola e assim. Faculdade, curso, psicologia. Deu-me liberdade, responsabilidade e felicidade. Sorrisos com sorrisos. Nunca vi a minha mãe chorar, e acredito que deva ter chorado a sua vida de infortúnios. Mas ela nunca me mostrou, a mim ou a alguém.
Já trabalhava. Vivia ainda com a minha mãe, na casa que começamos os dois a pagar. Quarto andar num lugar tranquilo e cheio de passeios para fugirmos à noite. Precisamente no passeio em frente à minha casa. Uma árvore ainda demasiado jovem era segura por um pau forte. Mais forte do que eu julgava. Ele encostara-se lá, o cigarro encostado à sua boca, o fumo misturado com o nevoeiro. Era um lugar sossegado, como já disse, e o aspecto dele não se ambientava nada ao passeio. Por isso logo o estranhei. Falou-me quando me aproximei. Não sei como me reconheceu, e não sei o que disse porque estava ocupado a reconhecê-lo a ele. Não poderia. "A tua mãe disse que esperasse cá em baixo." Com a palavra mãe o meu coração tremeu. Se esta figura não se enquadrava no passeio, não era de todo agradável a presença dele com a minha mãe. Agarrei as chaves com mais força. Agora as suas palavras caiam-me com latência na cabeça. Não me recordo das palavras, mas lembro a dor em crescendo com elas até culminar na palavra "Pai". Aí o meu estômago deu uma volta, as mãos cerraram-se em si completamente e o meu rosto carregou-se. Éramos dois. "Talvez pudessemos começar tudo de novo".
Então ri-me. Ri-me mesmo, e no fim do riso e perante a total falta de acção dele disse-lhe "Como?". Era impossível, nunca poderíamos ser 3.

sábado, fevereiro 10, 2007

Amar debalde

Também eu pensava que isto não existia. Debalde. Não a palavra. Por essa nutro um carinho de descoberta por folhear um dicionário. Em vão. Amar em vão. Pensava que não existia. Pensava que o amor era para toda a vida, que se fazia a dois e nunca poderia ser em vão. Vão, inútil. Naqueles dias de sol em que os meus olhos fogem para o mar penso se não terá sido a minha dor a fazê-lo assim, se não será o meu ressentimento que torna tudo tão negro e desagradável visto daqui.
Tínhamos amigos em comum. Era assim. Saíamos em conjunto, dois beijinhos e olás. Começaram a nascer sorrisos e vergonhas. Os nossos amigos começaram a reparar e a gostar. Nós começamos a gostar. Começamos a sair mais vezes, a juntar palavras aos olás. A falar só um para o outro, e as semanas começaram a ficar mais longas. Sábados alegrias. Sorrisos, gargalhadas. Até que um dia a voz dele surgiu no telefone. Dois bilhetes para o teatro, teatro a dois. O escuro tornou-nos confortáveis e a mão dele procurou a minha. Sorriso abrasador quando a personagem principal gritava de lágrimas. Nessa noite, pela primeira vez antes de sair do carro dele senti-lhe o olhar quente nos meus olhos. Demasiado quente. Ardente. Como nos filmes. Segundo encontro a sós trouxe rosas e beijos de despedida. Vermelhos, as rosas e os beijos.
E continuamos no vermelho, ele envolvia-nos e dava-nos mais e mais calor. Felicidade, alegria e saudade. Começamos a chamar-lhe relação. Parece-me tão dura esta palavra agora. A segurança dessa mesma relação e das três décadas levaram-nos para a mesma casa. Erro. Eu amava já. Debalde. Eu sei, isto soa demasiado magoado, demasiado emocional para ser correcto. "Nenhum amor é em vão!". Mas foi, e tornou-se porque eu deixei. Comecei a perder regalias e sorrisos. Via-lhe os olhos mais fechados que abertos, a boca mais fechada em beijos do que aberta em conversas. O cair no escuro, o vermelho ficou castanho e o castanho ficou preto. Ciúmes no negro, possessivo na luz da rua. Dor e amor. Incompatíveis. Comecei a sentir-me pequena e indefesa ao lado dele. Lágrimas, lágrimas demais para ele. Gritos dele e choro compulsivo meu. Medo. Já começam a perceber o vão. Não são sinónimos mas eles enchem o vazio do amor. Medo, dor, ciúme e gritos. Deixou de haver vermelho. Até um dia. Um dia o vermelho voltou da pior forma. Vermelho salgado de lágrimas, vermelho no chão. A casa tornou-se vermelha, eu vermelha e negra. Dor para mais dor.
O vermelho durou até vir o branco e azul. Hospital, um mês para curar o peito e o corpo. Uma vida para curar o vermelho. Milénios para curar o amor.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Amar fora

Não me orgulho disso. Pode parecer tão hediondo que nunca me vão acreditar. Quem tem mais de 10 anos de casamento e me lê sabe que não é tão fácil como dá nos filmes. Chegar à velhice com a mantinha nos joelhos numa casa do lago e dizer "Querida, durante estes anos todos nunca te traí" é algo tão sincero como raro. Não sou o único. Claro que isto torna muito mais fácil o que vou dizer. Não digo que seja verdade ou justificação. "Toda a gente tem um caso" dizia-me o meu pai uma vez na casa de férias quando lhe contei. "Isso é só uma maneira de sabermos apreciar o que temos em casa." Mexia na lareira. Não sei se consigo imaginar o meu pai a ter alguém para além da minha mãe. Sempre pacato e de poucas palavras nunca pensei que o meu pai tivesse coragem para tal coisa. Eu tive-a.
Não aconteceu porque quis. Procurei tanto uma relação exterior como a afastei. Aconteceu-me e deixei acontecer. Nos dois sentidos. Deixei que ela acontecesse e deixei que continuasse a acontecer. Casado há 12 anos, a 2 filhos e à habituação ao quotidiano. Uma noite de copos com os amigos. How typical. Acabaram todos muito bêbados muito depressa. Eu também. Sei como nos conhecemos por ela mo confessar no leito de amor depois. E aconteceu assim. Fomos e sentimos. Ela não pareceu importar-se com a minha saída repentina a meio da noite. Chamadas e mensagens depois. Primeiro encontro sóbrio com dificuldade. Tinha medo e respeito pelo casamento. Mas a sua memória era-me tão boa. E aconteceu. Jantar num restaurante longe da cidade. Café e cama. Repetiu-se e começou a crescer algo em mim. Em vez de apreciar o que tinha em casa começava a esquecer. Encontros amontoavam-se e a pouca presença em casa começava a notar-se. Viagens de negócios, serões e afins. Traz-me dor agora que penso nisso. A palavra divórcio começava a dançar na minha consciência. Impossível, família, sociedade emprego. Uma amante é normal, divórcio e casamento não. Triste sociedade.
Continuei assim, amei-a sim. Mais que a minha mulher admito, mas sou um fraco nunca fui capaz de me divorciar. Nem de contar á minha mulher. Ela era indiferente nesta altura. Mas a situação tinha que acabar, o amor reprimido e a culpa começavam a angustiar-me. 2 anos e começava a ser demais. Ninguém me sabia aconselhar, nem o meu próprio pai.
Até que tomei uma decisão. Erradamente, como tudo que fiz. E tomei uma atitude. E agora pesa-me. O amor dela nunca mais o vou ter. O amor da minha mulher e dos meus filhos não sei. Só o saberei daqui a 7 anos. Quando poder amar outra vez. Sem algemas e sem grades.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Amar cedo

Pois foi. Cada vez tenho mais certeza disso. Foi cedo. Com 15 anos não se sabe amar. Mas eu quis. 10º ano. Escola fresquinha e sinal de idade adulta. Lembro-me da primeira vez que o vi. Olhos tímidos, sorriso traquina, as calças largas que me apaixonavam na altura. Os nossos nomes juntaram-nos. Quando disseram que iamos ficar por ordem alfabética pensei que me fosse calhar um traste qualquer, daqueles que chateia mais que ajuda. Mas adorei quando ouvi o meu Rita a seguir ao Ricardo dele. Chamem-lhe sexto sentido, chamem-lhe romanticismo barato, mas tive a certeza naquele momento que os nossos nomes iam ficar juntos bem mais do que naquela mesa.
E não foi preciso muito para andarem juntos em corações na última página de cadernos. Nesta altura vocês estão a pensar, "Ai que saudades das paixões da adolescência", pois também eu tenho saudades. Sorrio tanto a pensar nisso. Lembro-me daquelas pequenas coisas que fazia o coração disparar por nada. Chegar ao intervalo e ir a correr contar à Joana que ele tinha usado a minha caneta! Nem sei o que é feito dela. Devem pensar que eu não sei dar títulos. Isto não era amor. De todo. Numa noite mágica de uma festa na escola ele beijou-me. E cresceu dai. Fomos usando as mãos dadas, e usando o sorriso um do outro. Fomos crescendo em conjunto nesse ano de que mal me lembro o que se passou a não ser ele. Cartas, saudades, e prendas. Dia dos Namorados. Pela primeira vez senti-me adulta nesse dia. Chocolates, cinema. Não me lembro do filme mas devia ser uma comédia pirosa. Também ao que o devo ter visto. Por esta altura sempre que tinhamos o escuro do nosso lado aproveitavamo-lo em beijos e amassos. Sorrio com o uso desta palavra. Mas era mesmo isso. Começou tudo a evoluir, e então já com os meus 16 anos orgulhosamente ditos a toda a gente tomamos o último rumo.
Era Verão já e como sempre os meus pais não estavam em casa durante o dia. Saímos da escola sem almoçar e viemos directos para minha casa, aproveitando a sexta-feira livre. A porta do quarto fechada à chave. As roupas no chão rápido de mais. A urgência do sentir. O olvidar das precauções. Primeira vez, rápida e desenfreada. Mal me lembro. Continua sem ser amor, dizem vocês. Pois, esse estava para crescer.
Férias. Longas e sem um beijo. Regresso às aulas sem Ricardo na chamada. Não havia télemoveis nessa altura. Para meu sofrimento. E acabou assim. Nunca mais o vi, nem quis ver.
O amor? Esse nasceu em Fevereiro, no dia dos Namorados. Atirada para a idade adulta de vez. O amor, cedo de mais no meu colo. Cedo, mas o amor da minha vida.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

7

O tecto do meu quarto mostra-me só a a tua imagem. Está pintado de branco mas a tu torna-lo no mais sujo dos cinzentos com a tua pele alva. Sorris-me e eu sorrio contigo. Felicidade. Agora que a noite te afastou queimas-me o peito como se me faltasse o teu calor. E falta-me. Sinto meu corpo doer por o teu toque ter levado consigo a minha pele. Habita-me o teu cheiro mas o meu corpo desmaia pelo teu calor. Explode no ar mostra-me os 7 quilómetros que nos separam. Corria-os agora se soubesse que o teu beijo me podesse esperar. 7 anos ao teu lado não seriam suficientes para te poder largar um segundo sem o coração gritar a tua ausência. Grita-me mas bate também com força por te saber em mim. Corre nas minhas veias o licor que vem da tua boca e me embriaga sem pedir. E sinto-me em ressaca por não mais te beber. Por não me encheres a respiração tanto quanto eu queria. Choro-te a ausência hoje mas já sorri tanto a felicidade. Mostraste-me hoje mais 7 maneiras novas de te sorrir. Ensinaste-me de novo que a felicidade é o infinito. E passas a vida a mostrar-me que para lá deste infito há mais e mais. Aprendo contigo a cada dia que mais um passo significa mais um nível de felicidade e mais um carimbo no nosso amor. Já andamos 7 passos neste caminho juntos e espero mais mil, mas um milhão, para que a minha felicidade aprenda também ela a dizer que te ama. Tanto como eu te digo. Tanto como eu te amo.

*Miluji tě.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Música de Filme [Toranja]

Dentro de mim. Estás dentro de mim. Tentei. Gritei-te para que saisses. Vesti-me da ira, enchi-me do ódio. Mas não consigo. Dentro de mim. Não te consgio tirar de cá e não te quero tirar. As lágrimas caem no piano e estilhaçam-se. Pensei ter conseguido. Tirar-te de mim. Mas não. É mentira e não concebo mais isto. É pena quase não poder ficar, és quente quando a luz te trás. Se ela te trouxesse mais vezes. O frio não me consumiria tanto. Mas aceito-o agora. Perdido no silêncio vejo a lua entrar-me em casa, e espalhar-se no chão. Sozinho no mundo. Sinto que tudo parou no escuro. Já nada vejo. Para quê ver? Sempre sou mais um homem, mais humano, mais um fraco. Nada me vai tornar o deus que tu queres ver. O herói. Neste mundo de vulgares. Nesta casa que o tempo deixou. Deixou-me assim.Só a lua ilumina este chão amarelecido do mundo. Estas paredes cansadas do vento parecem apertar-me mais contra mim. Sozinho.Neste mundo. Choro só. Caem as lágrimas que tocam agudos no piano. Aqui com a lua. Se ao menos me ouvisses! Se ao menos te sentasses naquela poltrona velha da sala. Gritar-te-ia: "Dança em mim!" Mas não. Tudo está acabado. Mundo, vida e fim! É o fim. O último sopro de uma caminhada. Vamos embora daqui, para dentro de mim.

Ensaio [Toranja]

Não vês a agonia a escorrer nas paredes. Não vês? Será que é possivel não veres como tudo arde em mim e escorre até ao chão. Esta agonia imensa da tua ausência. As portas não param de ranger. Gente, entra e sai. Lembra-me que não estás aqui, faz vibrar a tua lembrança na minha cabeça. É como um corte que entra no tímpano. E dói, uma dor aguda que faz chiar o coração, e me estripa e enche de fúria. Não aguento o barulho de dentro. É insuportável. Roi e magoa e grita-se do fundo do meu peito. Alto, altíssimo. Ensurdecedor. Já não estou só eu a ouvir...Já toda a gente à minha volta reparou, eu bem vejo os olhos deles. Já anda nas ruas! Olha-me nas ruas de lado. Marginal, sinto-os sussurrarem marginal. Já comentam por aí! Falam nas minhas costas, falam por todo lado. Leio-lhes nos lábios "qualquer coisa não está bem..."
Fala-se demasiado alto para quem está tão longe...Eu não pedi para ouvir isto. Parece que fazem de propósito. Que esperam que me doa. Atiram-me assim o que eu já ouvi gritar. Já ouvi! Mas não tinha que haver pedrada alguém levou por arrasto. Eu não precisava disto. Não mesmo.
A luz continua presa ao tecto. Tão débil que lhe consigo ver o vermelho bem demais. Por mais que se tente tirar, está alta demais. Já peguei num banco mas mal lhe chego. Ou encadeia os olhos e não me deixa ver onde está o vidro que a protege. Ou queima quando se toca. Como se tudo não passasse de um esquema para me queimar. Parece que sabe queimar. Parece arquitectar um plano para que a ponta dos meus dedos arda tanto como o meu peito. Parece que se aproveita de ser a única fonte de luz. Parece que não tenho janelas. E esta luz sufoca-me. Não entra ar aqui. E eu já nem respiro. Já nei sei que preciso de respirar.
Tira a mão quente dos olhos.
Que agora já não te tenho pena, nem que te escondas e me aqueças outra vez. Tira o frio da frente. Tira-o porque já não me importa se estou com frio. Já nem me sinto. Já tenho tão pouca gente para me encontrar. E não te quero ver a ti outra vez. Não quero. Deixa-me. Desata-me os olhos, desata-me a cara. Desata o meu corpo dentro do teu. Desaparece de uma vez por todas que já não te aguento aqui. Tira-me a voz que puseste no tempo. Estou farto de a mandar calar. Ela parece que não me ouve. Que não me ouve ou que não me quer ouvir. Que não está a querer desistir. De me magoar, de marcar em mim o sitio onde exististe. De pisar os membros no chão. De arrancar os braços no tecto. Os braços que formavam o abraço. Quando nos apertávamos tanto que nem nos sabia distinguir. E já não sei agora. Estás tão entranhada na minha carne que já te sou.
Tira-me de mim. Arranca-me do meu corpo. , tira-me de mim. Larga de mim o meu cheiro. Vá, tira-me de mim. Rasga da minha cara o meu sorriso. Queima em mim o que já te é porque quero renascer das cinzas. Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!

Contos [Toranja]

Não posso ser só eu. Não posso. Nem vou ser. Não penses que eu venho assim num cavalo e te dou o amor dentro de um coração. Não é assim que se faz. Isso é só nos contos de embalar. Vais ter que ser muito mais do que isso. Vais ter de construir esse amor. E não posso ser só eu a dar sentido à razão. Alheares-te desse mundo que vives e em que esperas o meu sentimento sem dar nada. O a dares essa paixão que se consome e não produz. Que arde mas queima mais que aquece. A paixão não chega, porque aparece e desaparece e não se preocupa com o rasto de migalhas que deixa no meu peito. Elas podem desaparecer e depois não sabes voltar. Perdida num mundo de lobos maus e bruxas podes não voltar. Tens de ser tu. Tens que escrever quem vês em mim, para saberes quem eu sou mesmo quando não me olhas. Vais ter que contar quanto dás por nós. Se me acreditas, se nos acreditas. Se merecemos o tempo que gastamos a construir-nos. Vais ter que despir o que tenho a mais. Largar os meus defeitos no chão mas sabendo que eles existem, e que até gostas de mos ver vestidos. Tens de me ajudar a cuidar desta flor vermelha. Com cuidado e sem demasiado calor ou frio. Vais ver que ela cresce. Que volta a crescer por não parar.Que volta a crescer por ser maior. Sem mais contos de embalar!