Monólogo Desapaixonado nº4
A noite veio já sobre a cidade. Ainda não se estende friaem todo o seu esplendor, mas as luzes amarelas já dominam. Eu ainda caminho sem destino.A noite protege-me de quem se vai cruzando com os meus passos e permito-me por isso a viajar de cabeça erguida e com os olhos levantados. Olham as faces que passam sem o minimo interesse. Vou caminhando até que um olhar se cruza e leio nele o destino de quem o tranporta. está em branco , como o meu. Sorrio inevitavelmente como reconhecendo uma companheira de viagem. Naquele instante vemo-nos como iguais, mas ambos seguimos o nosso rumo. Os meus passos são obrigados a parar mais adiante com um homem vermelho. Enquanto espero pelo verde sinto a figura com quem me cruzei parar também a meu lado. Porque terá ela voltado para trás? Pensando racionalmente se elea também não tem o destino pode seguir por muitas ruas, voltar atrás, parar para vislumbrar um caminho melhor. As minhas reflexões esbatem-se quando vejo a mão dela aproximando-se da minha. O sinal verde aparece então e eu acelero atravessando a ua e os meus passos afastam-se da mão que se me aproximava. Caminho tão depressa que a minha respiração irrompe com violência. Ao virar de uma esquina chego mesmo a correr para fugir. Com a cabeça longe os pés tomam a condução e quando volto estou já num jardim deserto. Sento-me e deixo a respiração voltar. Porque fugi? A iminência da mão explodiu-se no meu coração e não mais pensei. Não aguentei que ela talvez pensasse que por ambos partilharmos o destino em branco pudéssemos seguir para ele juntos. Não teriei eu imaginado a mão aproximar-se? Tenho falta de carinho e no entanto rejeito-o sem esperar para ver os seu efeitos. Trago os joelhos ao peito e os meus olhos fitam o negro. Com o quente da emoção ainda a passar-me nas veias, fico aninhado até que possa seguir com a respiração compassada.