domingo, outubro 29, 2006

Objecto do Amor nº7 – O sexo

Ardente. Pleno de sensações, mas num turbilhão calmo e quente. Um gelado que derrete lentamente, o sol de Inverno que derrete o gelo que a relva resolveu guardar. Aquele calor. O que se chama de amor sem ser, o amor sem se chamar. O fruto que longamente se cresce. Provido de interesse é difícil encontrar nele o vermelho do coração, mas lá enche o ar com um novo aroma, enche os ouvidos de uma melodia diferente. Enche o peito de uma nova alegria. Enche o céu de nuvens de um sol brilhante que sai do peito. Brilhante e novo. Novo e cheio de brilho. É o compor uma melodia para uma bela melodia criada pelo coração. É a música composta pelo vermelho que faz vibrar o coração.

sábado, outubro 28, 2006

Objecto do Amor nº6– O Abraço

Forte. O aperto que consegue chegar ao músculo protegido pelo peito. Quente. Um calor que abrasa mais que o sol de Agosto, mas que não queima. Um contacto total e desprovido de qualquer outro interesse. Provido de infantilidade e de carinho, cheio de uma força que traz qualquer um de volta à vida. A despedida. O reencontro. O ponto de partida para os lábios. O toque coração no coração. O coração que toca.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Objecto do Amor nº5 – A lágrima

Fria. Salgada e desagradável. Dolorosa de oferecer, mas benéfica depois de aberta. Custam a sair. Doem e fazem doer. Mas ao libertarem-se largam no ar algo de recuperador, e que faz de novo voar. Tomada como má, a água salgada é a única capaz de lavar e por a brilhar de novo o coração. Feita de diamantes aguçados, que só brilham à luz do sorriso que regressa de entre as nuvens. É a água que rega o beijo salgado da saudade. É a detonação do olhar entristecido que procura de novo o brilho. Escorre sobre a face e explode no coração. Faz explodir a face com o escorrer do coração.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Objecto do Amor nº4 – As mãos

Seguras. Que seguram o amor. Que apoiam o olhar ou que impulsionam o beijo. As mãos de coordenar. As mãos que declaram ao resto do mundo o amor. Dançando e investigando, vão construindo o castelo vermelho de sentimento. São elas que ao procurarem o seu par pousam a primeira pedra. São elas que permanecendo juntas hasteiam a bandeira do amor bem sobre as cabeças. Mãos que asseguram o amor, segurança que aperta o entrelaçar de duas mãos.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Objecto do Amor nº3 - O sorriso

Enorme. Aquele com que se brinda um olhar ou um beijo. De ponta a ponta. Com branco ou sem branco. O sorriso que se vê nos olhos, aquele que se sente nas mãos, o que se cheira no pescoço. O sorriso de felicidade, de humildade, de entendimento, de vontade. De ser mais, de fazer mais. O sorriso que olha o mundo com confiança, que olha montanhas com o números de passos a dar para chegar ao outro lado. O sorriso que se solta no ar, a felicidade que se solta no sorriso.

terça-feira, outubro 24, 2006

Objecto do Amor nº2 - O olhar

Choque. Um momento irrepetível. Uma ligação de génio despedaçada em milésimos de segundo. Mesmo sem som, cor ou cheiro, um momento cheio de vida. Um flash talvez. Um clarão de luz que desaparece num instante. A dois. Um instante que dura um tempo incalculável, e ainda assim dura exactamente o mesmo tempo para os dois casais de olhos. Uma droga que se obriga a repetir, e a repetir até entrarmos em overdose. Um vício, dos bons, que dá um igual prazer ao longo do corpo. E quando a outra face se oculta por alguma razão, a ressaca que cai pesada. Pesada como os olhos olhando outros. Leve como o olhar que incendeia pulmões e rebenta corações.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Objecto do Amor nº1 - O beijo

Vermelho. Assim uma espécie de dança. O tocar quente e molhado. Um respirar sentido no limiar superior do lábio. Começa-se a dança. Há toques e sussurros que a complementam. Há olhares e carícias que a acompanham. E aquele som. O som inconfundível da paixão. O desenlaçar de quem não se quer deixar de tocar. Um som quase etéreo que quem beija não quer ouvir mas que lhes acaricia os ouvidos. Uma profundidade variável, mas um sentimento único. O do beijo. Beijo de amor entenda-se. Não o beijo fútil, ou oportunista. Aquele beijo que por muito fugaz que seja, enche todo um corpo. Ou por muito lento, desgasta um coração. O beijo que suscita inspiração quando praticado. O que irradia luz ao encontro de dois lábios. Luz vermelha a do amor. Amor vermelho o do beijo.

domingo, outubro 15, 2006

Amanhecer

Hoje e ontem. Dançar de pés descalços na tijoleira. Sentar-me de calções a ver a chuva cair lá fora. O piano a tocar a melodia da solidão. A dor a cair lentamente no meu peito. Amanhecer. Era o que eu queria fazer. Surgir de novo no horizonte do novo dia. Este já está gasto. Gasto de discussões perdidas, gasto de paixões desiludidas, gasto de luzes efémeras de carros que passam sem abrandar. Mas como amanhecer? Como encontrar as forças para me erguer e me irradiar em luz para todo um mundo. Já não as tenho e ninguém mas dá. Quem eu sei me ajudar a levantar está demasiado longe. Longe demais. Em vez de me poderem dar força tiram-ma, sem quererem. E eu não sei como arranja-las. Tento dormir para ver se resulta. Anoitecer vários dias para depois ter força para me levantar. Mas não. Não dá.
E depois assim no escuro da noite voltam as dores que achava já ter curado. A dor da solidão a que pensava me ter habituado, e até me afeiçoado. Pensei mal. Porque toda a gente me faz falta. Mas mais tu. Fazes-me falta dizendo o que fazer. Gritando-me o meu destino, e sorrindo-me a minha vida. O teu sorriso é vidrado e só vem com a posição da luz. Mas se fosses só tu.
És tu. Aqui na minha mão, num cheiro, numa palavra. Tu, aqui. Gritando-me que amanheça.

sábado, outubro 07, 2006

Dreamgirl

Escrevo-te e não te conheço, sinto a tua falta sem nunca ter sentido a tua presença . Sonho-te em noites cheias de nuvens brancas e algodões-doce cor-de-rosa . Vejo-te aqui estendida sobre a minha cama, a tua cabeça nas ondas do meu respirar. A tua pele cálida que se mistura com o vestido branco que te aconchega do frio . O teu cheiro dança no meu desejo alegremente e sinto-me em ti. As leves cortinas brancas esvoaçam ao vento como uma pena de uma gaivota perdida . O vento que nos afaga arrefece os nossos corpos aconchegados de felicidade. E ainda assim não te conheço, ainda assim é somente um imaginário sonhador de uma criança abandonada . Como um cão abandonado . Parece-me mais triste a imagem do cão morrendo á fome do que a da criança que não tem carinho . Mas contigo, não é triste nem pieodoso, mas sim melancólico e enternecedor. És um sonho, mas um daqueles sonhos quentinhos do inverno, e não uma obsessão deseperada .E assim te sonho hoje e amanhã, até que talvez um dia te encontre, eu montando um cavalo correndo para te salvar do fogo perigoso de um dragão ameaçador.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Tudo isto é teu.

Tudo isto é escuro. Há um balançar de cabeça. O tempo desce em vibrações pesadas e grossas que abanam tudo. Há um cheiro a pão para fazer lembrar a fome que nunca sossega. As traças vão e vem trazem o cheiro do mundo e levam o meu sopro para o mundo. Não vejo luz mas pela cor do chão sei avaliar o dia ou a noite. Como antigamente te via a mentira e a verdade no escuro dos teus olhos. Antigamente. Já tudo isto é antigo, até o cheiro a pão. Tudo isto é o que dança no peito antiguidade. Antigo como eu. Já ainda tudo isto não existia e já a escuridão me habitava. Mesmo a teu lado era escuro, escuro ao pé de ti que trazias a claridade de uma vida. Tudo isto é gelo. Um gelo negro que me sai da boca a cada exalo. Frio, mas não aquele frio alvo da neve, não aquele da geada que cobre as manhãs de Janeiro. Um frio como aquele que me atiravas com os olhos se fazia algo de errado. Tudo isto já é teu. Todo eu, ou o que resta de mim. Ainda que possa apodrecer nesta escuridão fria e faminta, ainda assim tudo isto será teu. Ainda assim o meu eu será teu, teu para usares ou para ornamentares a tua sala de troféus. Tudo isto é teu.