segunda-feira, março 02, 2009

Mastigar a vida

Mastigar o tempo com estes dentes cariados. Não o sol e a chuva. Mas os anos e meses. Tudo isto que vai enchendo o peito num balão que já estica mais. Sistema nervoso they call it . Eu chamo-lhe talvez tudo o que guardo. Tudo o que trago, armazeno e arquivo. O cotão das emoções que se vai acumulando debaixo de desejos poeirentos e frustrações renováveis. O mesmo ciclo sem ciclo novo. A mesma desilusão coberta pela mesma aparência. Tenho que ter este sorriso ao mundo. Já tive esta conversa. Não sei quem me obriga. Quem mo mostrava por exemplo, deixou-o cair de novo no quotidiano preto e branco. Quem mo mostrava com todas as cores, deixou-se fugir como areia na minha mão. Porque raio me faz falta tudo o que não tenho? Porque não encontro na prateleira o que perdi no coração. Aprisionado em mim próprio. Sem luz na mesinha de cabeceira. Sem folga para café. Sem folga para fumar. Talvez abra a janela de grades. Talvez mostre ao céu fatiado que também pode ser céu. Talvez mostra á vida aos bocados que também pode ser vida. Talvez mostre à vida que não pode continuar aos bocados.