quarta-feira, março 28, 2007

Sinais Vermelhos são Pôr-do-Sol

Tocar a felicidade com a ponta dos dedos. Tocar com eles na tua pele de seda branca. Perceber o meu sorriso pelo calor que me enche a cara. Ver o reflexo do meu sorriso na tua cara. Não só no brilho dos teus olhos, mas por toda a cara espalhado como a felicidade espalhada em mim. Ser feliz no teu abraço. Ser feliz no teu amor. Ser aquilo que quero ser naquilo que quero ser. Ser teu em ti. Largar o amor nos dedos e deixá-lo escrever-te, escrever-me.Escrever-nos. Letras amontoam-se mas são uma gota no oceano do meu sentimento. Discorro o pensamento à procura de uma frase que sejas tu. Que seja o teu sorriso pelo menos. Nada há que expresse o brilho que dele sai e me inunda o corpo todo numa felicidade. Por ser a tua beleza e a tua alegria. A nossa felicidade. Nós.
Sonho-te, sonho-te esta e todas as noites. E dias. Numa sala de sofás castanhos. O cheiro a verniz. O piano no canto. Uma voz masculina canta e há livros pousados no chão da sala. A televisão ilumina-nos. A tua beleza ainda me atinge no peito depois de tantos anos. Sonho-te assim. Quero-te assim. Sei que vai ser assim. Não sei não. Não sei se os sofás vão ser castanhos, não sei se vamos ter um piano. Ter-te a ti é tudo. Tudo.

terça-feira, março 20, 2007

Areia

Dificilmente estão a pensar num número inferior a uma centena de pedras. Quando pensam em areia digo. E é impressionante que ninguém visualiza uma ou duas pedras por si só. Cada pedra que compõe a areia é uma história por si, cada pequeno pedaço. Acho que só damos conta de alguma pedra quando ela é demasiado invulgar, ou de um material diferente. Mas numa mão cheia de areia não se vê um único grão. É um verdadeiro exercício de paciência sequer contar o número de pedras que compõe uma mão cheia de areia. É igualmente difícil descrever todos os grãos que contribuíram para este amor de areia.
Tomáš já caminhava pela praia de Tereza bem antes de se conhecerem. Digo-o no sentido figurado já que no país deles não há mar. Digo-o porque já eram familiares alguns grãos de areia. Mas não me interpretem mal. Eles não se conheciam, habitavam espaços comuns sem se conhecerem. Por isso é que quando finalmente se falaram não foi difícil partilharem viagens e tempos. Tinham sempre outra razão para se encontrarem que não a presença um do outro. Isto pode até parecer mau, mas deu-lhes a capacidade de juntarem grãos sem terem de aceitar a areia. Não sei se me faço entender. Se tiverem 5 pedrinhas na mão não lhe chamam areia pois não? Ao terem os mesmos espaços, os mesmos caminhos não eram obrigados a chamar nada ao que tinham na mão. Isso é a melhor maneira de aceitar a areia. Mas não significa que seja fácil.
Se já estiveram na praia deitados com roupa normal aperceberam-se que a areia se mete em todo lado. Ai reside o seu principal problema. Claro que gostamos de sentir a areia nos pés mas se encontramos uns grãos no pescoço já não achamos tanta piada. E foi ao sentir a areia onde não queria que Tereza se afastou. Tomáš sem saber estava a por areia onde não podia. Felizmente não se aperceberam que habitavam os mesmos caminhos. Foi então que o caminho os voltou a juntar e a deixar grãos nos seus sapatos quando iam para casa. Ambos fingiam que não sentiam nada, mas o andar tornou-se impossível. Tereza começou a habituar-se ao calor da sua sombra, Tomáš já não vivia sem o sorriso dela.
E grão a grão foram construindo o seu amor. Sempre sem pressas e observando cada pedra nova com a mesma curiosidade com que olharam a primeira. Até que chegou a pedra de uma casa juntos, a de uma vida juntos, até a pedrinha branca e dourada. Chegou uma pedrinha chamada Táňa e uma chamada Petr. E se me perguntarem a mim eu acho que vem outra pedrinha a caminho.

sexta-feira, março 16, 2007

Água

Se não me engano estão agora a pensar na expressão "Claro como água."Não podiam estar mais certos. Sorrio. A água é assim mesmo. Se pedirem a um miúdo de 5 anos que vos descreva o que é a água duvido que ele use muito mais que a própria palavra. A água é assim. Podia usar muito mais chavões bonitos como "é o bem mais precioso" mas parece-me tão desnecessário pela beleza deste amor. Parece-me também desnecessário descrever o local one se encontraram.
A água encontra-se em qualquer lugar e corre sempre para si própria. Fonte, ribeiros,rios,mar. Seja onde for ela encontra-se. Também me parece que assim seria com Silje e Alessandro. Não importa muito como ou onde se conheceram. Eram 2 gotas de àgua num oceano de gente. Apaixonaram-se e aprenderam a nadarem juntos. Tão natural quanto se pode ser. A harmonia que deles exalava era inquestionavel. Os amigos pensaram o mesmo que vocês no inicio do texto: Claro como água.
A felicidade de ambos juntos soava como aquelas fontes e jardim no verão. A relacção deles era transparente e toda a gente olhava sem medo. Tanto Silje anunciava o seu sorriso como Alessandro afirmava o seu olhar. O mais engraçado é que ambos sabiam que o ciclo ia volatar e afasta-los de novo. Apesar do nome vos ter indicado ainda não tinha dito que Silje era estrangeira no pais de Alessandro. Ela tinha de voltar e ambos o sabiam. Como se sabe que a água evapora. E eventualmente o sol chegou para ela. É engraçado como desejamos sempre o sol mas como ele às vezes se pode tornar incómodo quando nos abrasa. Acho que a Silje pensou o mesmo.
Mas na distância eles voltaram a provar de que era feito o seu amor. Mantendo-se imutável a ligação de ambos apesar de ela chover mais a norte ela mantinha sempre os olhos no mar. Através de infiltrações e grandes rios o sal mantinha-se agarrado a ela, como prova que o mar nunca se lhe arredaria do espirito. Alessandro nunca hesitou em afirmar que o mar não era mar sem aquela gota, e que apesar de ele ter ficado, o mar era o conjunto dele e de Silje. Mais nada importava. Nem sequer quem o sol puxou. Como nota pessoal e abusando das metáforas, digo-vos sem medo, sabe mesmo bem beber o amor deles.

quarta-feira, março 07, 2007

Borracha

Soa esquisito este. A borracha soa demasiado impura, demasiado vulgar para ser amor. É o que anda no fundo dos nossos pés, nos negros pneus dos carros, é o que usamos para apagar o que está errado. Comecemos por ai.
Brad surgiu para apagar uma paixão errada. Como todas as de Helen. As paixões. Ela sempre foi de mil e uma paixões e despaixões. O problema é que desta vez apagou mais do que queria. Já explico.
Brad era o rapaz que toda a gente queria, o pretty-boy, jock, e ainda inteligente. Helen, não se pode dizer que fosse feia e nunca teve um C na vida dela. Parece na maneira como eu descrevo que foram feitos um para o outro, mas não era bem assim. Apesar de parecer assim, isto é antes de adicionarmos ao quadro as roupas e as expressões e o cenário. Percebem o que eu digo? Pronto. Era assim. Até que o Brad se apaixonou por ela. Tempos engraçados esses, ela a trata-lo como outra qualquer paixão frustrada dela e ele a esculpir-lhe tronos no gelo que ela lhe atirava. O que ele conseguiu fazer foi apagar nela esse branco e essa apatia que ela vivia. Então, bocadinho por bocadinho ela foi-se desfazendo e sendo parte com ele. Formaram um novo conjunto inseparável. Separável mas sempre unido. Como a borracha dos elásticos.Cada um foi para universidades diferentes. Largaram em distância mas mantinham sempre aquele amor. O problema foi que nunca o quiseram reconhecer como tal. Esquivavam-se dobrando-se e contorcendo-se como só a borracha confere. Nem nunca assumiram que eram alguém na vida um do outro. É engraçado para mim dizer isto, porque apesar de os saber assim também os sei juntos. E sei que apesar dessas distancias e de se apagarem as identidades um do outro por viverem em conjunto, serão sempre postos juntos por aquilo que para sempre os unirá. A borracha. Se se vão apagar completamente ou se vão encontrar o verdadeiro nome para o que os puxa um para o outro, isso já não posso contar.

Terra

Dolores desenhava a sua vida, sempre a caneta. Sem precisar de corrigir nada, porque tudo o que fazia estava bem, e fazia tudo. Até chegar ao novo emprego. Tinha 23 anos se não me engano quando entrou para a Latinair e logo para cima de muita gente. Como sempre havia sucedido não teve medo e entrou a ganhar, como se o plano dela também resultasse aqui. Havia resultado no ballet, no violino, na escola e na faculdade. Empenho e dedicação e tinha tudo o que queria. Sempre nessa confiança começou sem perceber que tudo o que caminhava era em círculo, e sem saber foi percorrendo uma espiral que a afundava cada vez mais na solidão. Acho que todos os amigos se esqueceram dela porque sempre fora bem sucedida.
Pablo fazia na Latinair aquilo que a experiência lhe ensinara a fazer, nada de cursos bonitinhos, ou notas brilhantes, apenas o que a vida lhe martelara na cabeça. Mas era feliz assim, tinha as sextas-feiras de amigos, os domingos de família. Sem grandes ambições. Nunca soube bem como é que se chegaram a misturar estas vidas, mas encaixaram perfeitamente. Gosto de os ver como a terra onde o amor decidiu crescer não se sabe bem como. Terra de papoilas. Eles são assim, não se percebe nem se questiona, vê-se e admira-se. Um amor quente e gelado dependendo da posição do sol, mas que é sólido e confortável. Pablo ganhou ambição e é já gestor. Dolores foi puxada para longe do abismo por ele e chegou a directora geral. Ainda não têm filhos, nem perspectiva deles mas eu passo a vida a dizer: "Se for menina, tem que se chamar papoila!". Eles riem-se.

terça-feira, março 06, 2007

Vidro

Esta forma de amor é engraçada. Eu devia ser proibido de falar deste amor. Gosto de vidro partido, acreditem ou não, gosto mais dele assim do que direitinho. Mas direitinho também é bonito, o mundo gosta mais dele assim.
O mundo nunca importara muito para Vadim, porque sempre se achara indiferente a ele. Era mais no seu pensamento. Conhecera Nika ainda ela era menor. O ridiculo do proverbio "O amor não escolhe idades" é bem claro no movimento de nariz que a maioria das pessoas tem quando ele envolve a diferença de idade que separa a maioridade. Ele tinha 21 acho, ela 16 ou 17. Parece-me que em poucos casos se sinta amor com essa idade. Nem eu sei se ela sentia, mas pelo menos dispôs-se a cultivá-lo.
Não eram o que se costuma chamar de casal perfeito. Não tinham grande coisa em comum a não ser o enorme sentimento que os unia. Toda a gente olhava para lá e não via nada, como o vidro se for limpinho. O amor de vidro é assim, só se nota se tiver sujo. Mas eles estiveram limpos muito tempo. Viviam felizes no seu amor, a diferença de idades de ambos fazia com que os amigos não fossem comuns e por isso o amor se centrava só nos dois. Nika ainda estudava, Vadim também, mas à noite enquanto trabalhava de dia. Mas arranjavam sempre tempo de estarem juntos, fazendo dos horários puzzles que montavam habilmente com a força da prática.
Até que pela primeira vez o vidro quebrou. Partiu-se mas sem se estilhaçar. É este o problema do vidro, parte-se facilmente. Partiram-no juntos, porque estava demasiado sujo, e enquanto puxavam de um lado para o outro para lhe verem melhor a sujidade partiram-no. Nika encontrou outro homem, da sua idade, com mais coisas em comum. Vadim guardou o seu pedaço de vidro com carinho. Mantinham o contacto, mantinham o jogo do puzzle, e o vidro, talvez com as lágrimas da infelicidade de ambos, foi-se lavando, e ficando mais claro. Até que Nika percebeu que o vidro pode ser refundido e de novo colado. Aprenderam então a colar e a limpar melhor.
Sorrio com este amor. Porque apesar de ser o mais transparente, é também o mais frágil. Mas a fragilidade também une. Que o digam a Nika e o Vadim que depois de partirem e colarem tantas vezes o seu amor aprenderam a limpá-lo melhor que nunca. Mas isso não significa que não parta!

Ferro

Frio mas forte. Acho que todos nos habituamos ao fogo associado ao amor. Os mais perspicazes associam-no à paixão. Pois a temperatura é uma analogia fácil, bem como a dureza. Conto-vos a primeira história.
Não sei como se conheceram, mas aprenderam a viver juntos antes de aprenderem o sentimento. Tinham já a presença do outro bem cravada no corpo antes de se cravarem os nomes. Zhou e Yun.
Partilhavam o caminho para a escola até ao dia de enverdarem por outros estudos no caso de Yun, ou pelo trabalho no caso de Zhou. Só aí se aperceberam que precisavam da presença constante. Mas ainda lhe chamavam amizade.
Yun nunca entrava em casa vinda da Escola Técnica que não passasse na loja onde trabalhava Zhou. A loja pertencera em tempos ao seu avô, e agora, depois de ter sido comprada por uma grande cadeia, recebia a ironia de bom grado e empregou Zhou facilmente ao aperceber-se que ele conhecia toda a clientela, além dos cantos à casa. A cliente mais regular era agora Yun, que entupia sempre a entrada com a sua grande capa de cartão cheia de esquissos e projectos. Foi precisamente quando a cara de Zhou começou a aparecer por todo o lado no bloco de desenho que Yun se apercebeu que afinal a amizade começava a substituir as últimas letras por duas novas e maiores. Ele já se apercebera. Mas para ele não precisava que houvesse um único toque para ser uma relação. Não precisavam de se chamar um casal se já eram à muito tempo.
Casaram na Lua Nova de Maio ignorando por completo os rituais e tradições. A vida a dois surgiu tão naturalmente que nunca precisaram de se afirmar nem a amigos nem a familia. Quando se olha para o quotidiano deles é raro encontrar um momento em que se toquem. Nunca os vi dar um único beijo. Acho que se habituaram a esse estar sem precisarem do calor fisico, preferindo o brilho. As discussões deles são tão frequentes como as carícias. Um amor de ferro trazem ambos ao peito. Não que isso seja sinónimo de menor intensidade de sentimento, apenas uma maneira diferente de amar. Um amar de ferro, na mais pura das suas formas, se ponta de ferrugem, o principal problema desta composição do amor.

7 Materiais de Amor

De que é feito o amor?
O meu nome é Laska e vou mostrar como o amor pode ser feito de 7 materiais, que se combinam ou que só por si constroem os corações redondinhos e vermelhos. Trago-vos sete amores que encontrei pelo mundo, sete construções na mais simples e complexa das formas.