M no céu
Hoje apetece-me escrever no céu. Sem ter que me prender a textos e canetas. Escrever só. Encher de metáforas molhadas um vidro baço. Dar azo a mil versos luminosos numa lampada longa. Espalhar assim a minha palavra por tudo e tudo. Uma palavra só. Uma palavra onde coubesse o mundo. Mas mundo não explica o mundo todo. Uma que explicasse. Uma frase, pelo menos. Uma frase que enchesse o céu, ficasse reflectida no mar e inundasse os olhos do universo. Uma frase que fosse minha, e tua, e do mundo, e só de alguém e de toda a gente. Uma frase só. Uma frase de amor, como "Se o amor for azul, quero ser o teu mar" ou sobre a morte: "Por mais que a saudade me lave os olhos é o teu nome que melhor se lê no meu olhar". Mas estas falam para alguem. Tinha de ser uma frase que falasse ao mundo. Sem discurso directo. Mas tudo me parece tão rente ao chão. Tão pouco celestial. E eu queria era escrever no céu. Uma letra que fosse. Um M.