Cor de Fogo
Uma borboleta. Vermelha fogo, as suas asas labaredas que agitam o ar. E ela agita-o sem medo, cada movimento cheio de graça, tão timido e ao mesmo tempo tão certo. Os seus movimentos parecem desenhar no ar flores e sorrisos, mas a imagem perdura apenas segundos nos meus olhos. E queimam, queimas as imagens que faz, queima a sua beleza, queima o não ter como as guardar. Antes de ela chegar bastava-me o céu azul, o campo verde pleno de flores. Agora acho que não consigo imaginar este sitio sem as suas asas a esvoaçarem. E há mais borboletas, e mais animais. Mas só as asas dela cegam, só os seus movimentos me encantam.
Mas não sei como a apanhar. Nem sei se a quero apanhar. O seu voo livre é tão essencial para as suas assas e se me aproximo demasiado ela concerteza irá voar. E aqui me sento olhando o seu voo, e já nem o vejo em condições. A angústia de ela poder voar para longe ou o medo de nunca mais sentir o seu voo no meu cabelo.Mas não tenho como a manter aqui, não tenho como fazê-la ficar a meu lado, porque não sou uma flor, e o meu pólen nunca foi amarelo o suficiente. E não quero mantê-la fechada, fazendo-a sentir a minha presença a toda a hora mesmo sem ela querer. Ela quer voar, ela quer flores e primavera, e eu sou o Inverno, e nenhuma borboleta se atreve no frio.