quinta-feira, novembro 30, 2006

Branco-Sonho

As tuas mãos a percorrem o meu coração. As minhas a percorrerem-te a fronte. O sorriso habita-me e os meus olhos querem exultar de alegria. Respiro. Inspiro-te até não poder mais. O teu cheiro dentro meu peito aquece-me a tua lembrança. E o coração parece rebentar de alegria com a tua presença. E aninho-me colado ao teu coração, aninho-me nos teus braços para ser feliz aqui no quentinho. Queria ficar assim, assim sem comer e sem beber, sem acordar e sem dormir. No calor que o teu coração irradia e me faz derreter até o olhar. O olhar fugidio e doce. Assim como deve ser. Doce como os teus lábios e como a tua cara. Fugidio como o teu nariz. O branco do teu sorriso que emana sobre mim e me rodeia. E depois há aquela névoa de sonho. Um sonho que sei ser meu, que sei ser real. Como quem pela primeira vez vê as nuvens de cima. Um sorriso enorme. Um olhar cerrado. Um sonho acordado.

terça-feira, novembro 28, 2006

Azul-Chuva

Há aquele levantar de todos os pelos, com a sensação que algo passa pelas costas. O sorriso brota da minha face, e parecem aparecer pequenos cristais no ar à minha volta. Talvez seja a chuva. O som é idêntico. Um "chh" lento mas não demorado. Repetindo-se indefinidamente. Infinitamente. O infinito dos teus olhos. O azul que neles se abre e me chove. E depois a porta que mo tapa, e depois eu procurando às cegas a chuva. E depois tu empurrando-me para o conforto do abrigo. Mas eu quero ir, quero voar sem medo da chuva. E fico assim. A querer molhar-me. Mas a porta não se abre e acabo por vislumbrar o temporal caindo lá fora. Então volto as atenções para dentro e vejo uma sala, e também é azul, o chão, as paredes o tecto.Tudo é tão azul como lá fora. Neste momento é na sala que vivo, e é na sala que sorrio. E tu mostras-me que a sala vale a pena. E por isso sou feliz. E aqui sou feliz. Deixei de me preocupar com sair. Deixei de pensar se a saída é melhor. Hoje o coração explode com o conforto deste sofá. Se o amanhã for feliz na rua, o hoje foi feliz aqui. Assim como eu não anseio o exterior, também não o temas. Porque a chuva sabe tão bem! Sabe a ti, sabe a azul.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Carta à Joana

Querida Joana,
Ol´q.Tenho saudades de falar contigo. Gostava que viesses mais vezes ter comigo à mesa de pedra para falar comigo. Tenho tantas coisas para te contar. Falar-te de ventoinhas e casas. Sorri. Sobre casas é que queria falar mais. Passei ontem pela casa onde a tua avó viveu, disse-me a minha. Eu já não sei nada da tua casa para puder contar aos meus netos. Como está a casa da Alemanha? Espero que ainda esteja tudo direitinho e que ainda vás lá muitas vezes.
Agora conto-te da minha casa. Lembras-te daquela casa que eu julgava assombrada para alguém viver lá? Que não conseguia entrar? Descobri que era eu que estava a fazer tudo errado. Deitei-a abaixo e estou a construir uma nova. E estou a adorar. Usando palavras tuas, "Hoje seria capaz de gritar tão alto a minha felicidade inocente, que até tu, que moras longe, a poderias cheirar." Com cada novo tijolo rejubilo de alegria e tudo é divertido. Posso não ter um telhado, ou sequer uma cadeira para me descançar, mas pelo menos sei que aquilo que tenho foi construido por mim e é meu. Não sei se também construiste a tua casa, nunca me chegaste a dizer. Estou preocupado porque vi a Amélia no outro dia, e não sei se o regresso dela era desejado, nem se veio na melhor altura. Queria-te falar da minha casa, contar-te todos os dias como estão as obras, se já tenho porta. Mas nunca estás na mesa de pedra, e quando estás perto estás demasiado ocupada para te sentar. Pode parecer que estou muito certo de mim, mas "juntos analisamos e tu ajudas-me a continuar a andar, a continuar a caminhar nesta estrada cheia de buracos". Mas eu compreendo que a tua estrada seja muito comprida e tu precisas de correr para a acompanhar. Mas sinto a tua falta ao meu lado.
Quando puderes, eu estou na mesa de pedra, pronto para falar de tudo sem falar em nada.
*
Diogo

domingo, novembro 26, 2006

Castanho-Chocolate

A tua mão, o teu toque. A magia de tudo o que me ofereces. As ofertas mágicas que são tudo. O teu sorriso, aquele sorriso que é luz. A felicidade enorme por coisas pequenas. A minha pequenez num universo maior que nós. A nossa grandiosidade pela diferença. Sou diferente com a diferença que me fazes. Sem sentido. Vou sorrir agora. A felicidade que brota do peito, em sorrisos. Felicidade pelo mundo, por estar nele, por ser dele, por aprender com ele. Ler, ver, comer, sonhar, ser. Atingir sonhos e esperar outros, perceber a espera e gostá-la. Ansiar um momento com medo. Temer um momento com ansiedade. Ser habitado pela total e completa serenidade. Acariciar o silêncio com palavras pequeninas e cheias de esses e ilumina-lo com sorrisos. Cantar a plenos pulmões a música sem sentido enfeitando-a com olhares brilhantes de alegria. Vou andar com uma lareira, uma mantinha, uma televisão e um chocolate no bolso. Vou-te trazer com o carinho na mão, com a magia nos olhos, com a alegria na boca, e com o calor no peito para que o frio nunca te toque. Vou-te trazer em mim com a felicidade a cantar bem alto.

quinta-feira, novembro 23, 2006

49


Hoje fazes-me falta. Mas não é por ser hoje. É por ser um dia mais. Em todos me fazes falta, em todos te quero sentir aqui. A tua ausência sobrecarrega-me os ombros em cada manhã. A falta da tua presença molha-me os olhos a cada noite.Mas não gosto que seja assim, gosto de te sorrir de volta quando me olhas das molduras. Gosto de te recordar e sorrir, gosto de te lembrar e rir, gosto de te ver em mim, gosto de saber em mim vive uma grande parte de ti. Gostava de te ter dito isto quando me podias responder. Gostava te ter agradecido por tudo e sentir aquele abraço depois. Do abraço à bofetada, não há um único dia que passe que não te imagino aqui de novo dares-me a vida. E deste-me com muito sacrificio, e deste-me tudo sem pedires nada para ti. Deste-me tudo para que eu me tornasse em alguém, deste-me tudo para que a vida me sorrisse sempre, mesmo que para isso ela não sorrisse de todo. Agora o agradecimento já não é necessário. Já não é preciso. Vou te agradecendo com a minha vida, e que tudo o que faça seja um enorme obrigado. E que tudo o que faça seja um sorriso para ti. E que todos os sorriso que eu provoque, ou que de mim saiam sejam para ti. E que tudo o que eu provoque sejam sorrisos, e que consigam igualar todos aqueles que abdicaste para que eu pudesse ser eu. E dou-te o meu sorriso agora com a eterna saudade do teu.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Vermelho-Fogo

Tenho vontade de pintar os teus olhos em todas as paredes. Quero afagar cada pedaço da minha cara que os teus lábios tocaram. Apetece-me fazer mil almofadas com a forma das tuas mãos. Quero que alguém do cimo de um palco toque a musica que o teu sorriso exala. Apetece-me guardar num cofre os meus lábios e dar-te a única chave. Quero que o mundo todo irrompa em gritos e assobios enquanto nos cobrimos com o silêncio dourado. Vou olhar para o sol durante horas para que os olhos se habituem a fecharem-se. Vou pintar-me de vermelho para que toda gente saiba o fogo que me arde no peito.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Variações em Si Maior - Tema para Violino

O pescoço levantado, o olhar vítreo para algo que não está ao alcance dos olhos. O sorriso que a própria música deixa ao sair das cordas. Seguro o violino com força. Encosto-o ao meu ombro e com o movimento do braço solta-se-lhe o grito. Sinto até no ombro, vibra-me até ao coração e deixa-o em danças absurdas mas que sabem aos dias de Maio. Ao ouvido chega aquele som directo que me abana os pensamentos e me deixa na confusão do próximo acorde. Faz-me querer encostar os lábios à música, faz-me querer segurar nas minhas mãos as da melodia para seguirmos em uníssono. Mas ainda não é agora. Agora tenho que tocar o interlúdio para lá poder chegar. Eu quero chegar, mas não me vou enganar em nenhuma nota. E vou deixar que o arco vá soltando estas notas. Quase que as vejo levantarem-se no ar naquela forma de pezinhos pretos e a voarem à minha volta e me entrar cabeça a dentro. E depois tenho 12 anos outra vez, ou 15. Tenho a idade em que toda a música me fascina e me embala. Deixo-me levar de forma tal que rodopio e danço freneticamente sem medo dos espectadores. Afinal a melodia não pode só vibrar nas cordas. Até que lentamente os meus dedos largam o arco e toco finalmente nas cordas com os dedos. O som que deles sai enche-me o peito e fica a ecoar por outra primavera.

domingo, novembro 12, 2006

Madrugada

Há um cheiro no ar. Há uma nova melodia no olfacto. Cheira a um novo dia de verão. Um dia de calor. Cheira. Há em mim todo um arranjo que espera esse dia. Da cabeça aos pés. O meu corpo espera o novo dia como um girassol aguarda o novo nascer do sol. Eu não espero o sol. Mas cheira a dia. Os meus olhos, atentos, esperam antes um olhar, um olhar cúmplice, que ilumine mais que o sol. As mãos, essas esperam o sol do olhar. Esperam-no como espera a neve que ao derreter provoca uma avalanche. Quando o sol vier as minhas mãos estão prontas a estender-se e a cobrir tudo como um manto branco. Já para o meu coração as avalanches são uma constante. Deixa-se agora explodir com qualquer brisa que traga o cheiro do novo dia. Com qualquer avistamento de luz imagina o novo dia e explode lançando sobre todo o corpo golfadas de sangue que aquecem as mãos geladas. O estômago esse faz obras a cada dia que passa. Prepara-se e enfeita-se para se tornar a casa das borboletas no novo dia. Ainda não as tem, mas a sua preparação deixa toda uma fome à porta. A cabeça, essa gira incessantemente. Gira procurando o novo dia, olhando o horizonte esperando uma pontinha de vermelho que indique o sol. Mas já lhe sinto o cheiro. E o gosto. Dobro os lábios para que conserve dentro da boca o sabor do novo dia. Ele vai chegar. Já não falta muito. Afinal já é madrugada.